Não me lembro ao certo a primeira vez que fui chamado de senhor. Deveria ter um pouco menos de 30 anos e recordo que olhei para os lados à procura de alguém mais velho, para então perceber que era comigo mesmo que estavam falando: “O senhor já foi atendido?”.
A resposta foi um longo silêncio existencial de não sei quantos segundos. Para mim, aquele instante durou uma eternidade, porque me dei conta de que havia, de certa forma, atravessado uma espécie de portal simbólico. Os vincos que surgiam no meu rosto, herdados da família do meu pai, começavam a roubar discretamente minha mocidade e só me restaria aceitar a incontornável chegada da maturidade.
Não me lembro ao certo a primeira vez que fui chamado de senhor. Deveria ter um pouco menos de 30 anos e recordo que olhei para os lados à procura de alguém mais velho, para então perceber que era comigo mesmo que estavam falando: ‘O senhor já foi atendido?’.
No Brasil, ser chamado de senhor é uma questão bastante complexa. Não passa apenas por aparentar ou ter mais idade. Os códigos de convívio social são confusos e, muitas vezes, passam ao largo do respeito. Na melhor tradição “Casa Grande & Senzala”, não é raro ouvirmos empregadas domésticas maduras chamando filhos de seus patrões de senhor e senhora, evidenciando abismos sociais presentes na nossa sociedade.
Por outro lado, também vivemos tempos de muita informalidade, o que não é algo necessariamente ruim. Muitos filhos de amigos chamam seus avós de você não em sinal de desrespeito. Muito pelo contrário: há, hoje, uma aproximação maior entre as gerações, que compartilham interesses, espaços de sociabilidade e signos culturais. Fui a uma festa recentemente em que avó e netos dançavam um hit da Pabllo Vittar.
Passados tantos anos desde aquele primeiro “senhor”, já me acostumei com a ideia, e nem chego a corrigir quando insistem em usar essa forma de tratamento. Ao contrário do meu pai, que a meses de completar 80 primaveras, fica “indignado”: “Senhor está no céu!”, diz, entre risos.