O tempo existe, aparentemente, para ser contabilizado. Em minutos, dias ou séculos. Por conta dessa lei suprema de nossa civilização, celebramos aniversários, tomamos conhecimento de quando começa a sessão do filme que desejamos ver e sabemos quando ocorreram grandes acontecimentos, como guerras, declarações de independência, desastres naturais, feitos tecnológicos ou descobertas científicas.
Esquecemos, no entanto, que há uma outra faceta do tempo, bem menos precisa e objetiva. “Ele passa e não volta mais, leva a infância e o que traz”, escrevi numa redação de quinta série que guardo até hoje, já anunciando uma precoce vocação realista.
Há algo um pouco perturbador nessa constatação um tanto ingênua de menino. Às vezes não dá tempo mesmo. Ele se esgota sem dar aviso prévio. Como um tsunami, ele chega, arrasta, derruba tudo. Arrasa o que encontra pela frente, nos deixando atônitos, inertes.
À medida em que nos tornamos maduros, dessa forma, vai ficando claro que muito do que gostaríamos de fazer de nossas vidas, os tais sonhos pueris de juventude, desmancham-se na boca, mas isso não é ruim. Despertamos para outros sonhos, que se iniciam (e se criam) dentro de nosso olhar.
Há tempo, hoje tenho certeza, para ao menos tentar compreender o presente, mergulhar na aparente desimportância de nossos atos cotidianos e perceber que estamos, mesmo sem nos darmos conta, a escrever uma história única e preciosa. E que, sim, ela nos pertence.
À medida em que nos tornamos maduros, vai ficando claro que muito do que gostaríamos de fazer de nossas vidas, os tais sonhos pueris de juventude, desmancham-se na boca. E despertamos para outros, que se iniciam (e se criam) dentro de nosso olhar.
Melhor, contudo, não esquecer que o tempo pode se esgotar sem qualquer lógica. E ao menos buscar sorver cada momento ao lado de quem realmente importa como se fosse (e de fato é) o mais importante. Revelar, ou reafirmar, nossos afetos, que carregam nossa verdadeira essência, ao mesmo tempo mundana e divina.
E assim o mundo segue a girar, à espera de mudanças, descobertas, capazes de nos lembrar tanto da impermanência quando daquilo que realmente faz diferença. Constatar isso nos devolve a humanidade que costumamos derrubar pelo caminho enquanto perseguimos os ponteiros do relógio, aquele outro tempo.