Se tivesse que escolher, diria que Minas Gerais é o meu lugar favorito do Brasil, e que o mineiro é o meu tipo favorito de brasileiro. Aqueles clichês que se sabem bem: hospitalidade nota dez, culinária maravilhosa, literatura superior – tanto na prosa quanto na poesia, mas principalmente na prosa poética – cachaça bem feita, paisagens deslumbrantes e pra todos os gostos (menos pra quem gosta de praia) e, no geral, valores que condizem um pouco mais com o meu estilo de vida.
Com dois parágrafos elogiosos sobre uma cidade linda, já estou apto a receber os pessimistas que me chamam de ingênuo e deslumbrado.
Ouro Preto, cidade que revisitei depois de anos e sobre a qual nada mais lembrava, muito me surpreendeu nesse sentido. Universitária e republicana – nos dois sentidos da palavra, já que moradias estudantis e homenagens a Tiradentes abundam –, com ladeiras que desafiam a pacatez da paisagem barroca e mais igrejas do que santidade, é, para todos os efeitos, uma cidade do interior impulsionada pelo turismo e pela sede da UFOP – em certa maneira, como a minha Paraty. A diferença, porém, é visível. Conhecidos se cruzam e se cumprimentam nas ruas, pessoas pegam os ônibus se despedindo dos vendedores de jabuticaba, quase sempre com palavras de incentivo às boas vendas, todos flanam sem pressa nem arfo, encarando as pedras de ferro das ruas com calma. O sotaque mineiro ajuda no clima de acolhimento da cidade: todos parecem mais carinhosos ao atender nas lojas e ao dar direções nas ruas.
Com dois parágrafos elogiosos sobre uma cidade linda, já estou apto a receber os pessimistas que me chamam de ingênuo e deslumbrado. Que a cidade é suja, não há idoso que aguente essas subidas, e os estudantes que fazem uma algazarra dos diabos em suas festinhas que ninguém dorme nos fins de semana, sem falar na violência, que você pode não enxergar, mas que acontece, e muito. Pode ser, pode ser, cofio os bigodes dando ao interlocutor o benefício da dúvida. Não é uma cidade perfeita, é apenas um lugar com uma arquitetura incrível, montanhas por todos os lados, café bom, pão de queijo e gente gentil. Se é paraíso ou não, é uma questão de semântica.