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Home Literatura

Alice Ruiz e a alegria da poesia de resistência nos anos 80

porMarilia Kubota
3 de outubro de 2017
em Literatura
A A
Alice Ruiz. Foto: Foto: Eduardo Macarios / Reprodução.

Alice Ruiz. Foto: Foto: Eduardo Macarios / Reprodução.

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Dois em Um (Iluminuras, 2008), de Alice Ruiz, reúne as suas duas antologias publicadas pela Editora Brasiliense: Pelos Pelos (1984) e Vice Versos (1988). Pelos Pelos é a reunião dos livros Navalhanaliga, Paixão Xama Paixão e inéditos e Vice Versos abrange Minimal e Rimagens. O livro ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia em 2009.

Os poemas têm influência de dois movimentos: o Tropicalismo e a Poesia Marginal, vigentes nos anos 60 e 70. No Brasil, a tradição poética de vanguarda (ou tradição de ruptura, como quer Octávio Paz) rendeu movimentos como o Modernismo e a Poesia Concreta. O Tropicalismo e a Poesia são seus herdeiros diretos.

A aproximação com a cultura pop é uma dificuldade para a análise critica de Alice. [highlight color=”yellow”]A busca pela simplicidade, pela espontaneidade e o humor confundem.[/highlight] Os críticos sérios – sérios demais – acreditam, ainda, que poesia boa é poesia épica. Na poesia contemporânea, a narrativa e os dramas metafísicos não são relegados, mas inseridos no cotidiano. O poeta busca encontrar imagens poéticas na linguagem coloquial, no contexto urbano e industrializado.

Por causa da opção por uma linguagem mais acessível, a poesia de Alice é relacionada ao superficial. Poucos conseguem ver que além dos temas da música popular – o amor, o desamor, o prazer, a liberdade, a arte –, a poeta reelabora suas perdas, com leveza. E, mesmo tendo como temas as perdas, nem sempre os poemas podem ser lidos apenas como alusivos a questões pessoais.

Os poemas têm influência de dois movimentos: o Tropicalismo e a Poesia Marginal, vigentes nos anos 60 e 70.

“Perguntas para Olinda”

Que papel faz um sorriso
entre aqui e o paraíso ?

e quando nada mais é preciso
que fazer com isso ?

o texto que se decora
o aplauso que vem de fora
o outro que incorpora
nos bastidores escuros
também vão
quando a gente vai embora?

(1988)

contar uma história de amor
por o fim pelo meio
um começo que não veio
nenhuma rima em or

cantar como quem resiste
resistir como quem deseja
meu versejar seja
o riso que te visite
a brisa que te festeja

não
tristeza não
essa é quando
a alma veste luto
e já não luta

peleja si
coração
em busca de beleza

corre ainda rasteja
só não deixa fugir
a vida que te beija

(1988)

[box type=”note” align=”alignleft” class=”” width=”300px”]

Leia também
» A poesia marginal vai à Flip
» Alice Ruiz, Luci Collin, Karol Conka e o empoderamento pela arte

[/box]

É este o truque com o qual Alice tem iludido e cativado gerações de leitores. As perdas a ensinam a levar a vida para o alto. “A dor tão elevada que é capaz de fazer rir”, evocada pela poeta no prefácio de uma das obras de Paulo Leminski, “La Vie en Rose” é uma tática de uma guerrilha que tem no riso, no chiste, na desconstrução de clichês e no aproveitamento de palavras de ordem seu núcleo. Este tipo de guerrilha cultural seria herança do Tropicalismo, cujo grande mote é “Alegria, alegria”.

você fica
muito louco
muito branco
muito magro

o pó da estrada
que se afasta
é muito amargo

me sobra pouco
mas este amar
eu sempre trago

(1984)

Alice Ruiz filiou-se aos herdeiros da Antropofagia, vinculados à catarse do agora: movimento que celebra o corpo e o prazer. A deglutição do estrangeiro, apregoada por Oswald de Andrade em seu manifesto é atualizada. Não apenas usar a linguagem e os temas do cotidiano, alinhar o contexto industrial aos temas clássicos da poesia, como a natureza, o amor, a metafísica. [highlight color=”yellow”]Entra na ordem do dia o discurso sobre o prazer e o corpo, a exploração dos sentidos.[/highlight] Não-repressão num momento histórico (anos 70 e 80) em que a pura alegria é contraponto a uma tradição crítica que coloca o presente como estado de martírio.

a festa que se afasta
vem de outra
que se aproxima

lusco fusco
vai e vem
da festa
que nunca termina

(1983)

***

sem luto
pelo obsoleto
só
ab
so
luto

(1983)

Esta ideologia está em coalizão com a micropolítica do desejo de Felix Guattari e o comportamento aqui-agora do movimento hippie dos anos 70, que populariza conceitos de filosofias orientais, como o hinduísmo e o zen-budismo. Os hippies trazem a ideia do prazer na realidade do presente, em que a utopia não se adia, em que o estado paradisíaco é vivido todos os dias, apesar do luto e da luta inglória, das mulheres, dos negros e dos homossexuais:

sou uma moça polida
levando
uma vida lascada

cada instante
pinta um grilo
por cima
da minha sacada

(1980)

algumas flores
teimam em viver
apesar do tempo
apesar do peso
apesar da morte
apesar de algumas
que teimam em morrer
apesar de tudo

(antes de 1979)

Assim se percebe que a poesia de Alice Ruiz se torna uma poesia de combate, através do humor e da leveza. A alegada superficialidade é, na verdade, uma opção pela linguagem acessível a todos e de todo dia, uma estratégia que busca atingir o grande público. A simplicidade de linguagem é uma reelaboração, uma ponte entre a espontaneidade e a erudição. E é o que a consagra, a despeito de uma crítica que ignora os artifícios e artimanhas da poeta. Num tempo obscuro, em que o futuro era uma incógnita, [highlight color=”yellow”]Alice era uma das vozes que sustentava a esperança por dias melhores.[/highlight]

[box type=”info” align=”” class=”” width=””]DOIS EM UM | Alice Ruiz

Editora: Iluminuras;
Quanto: R$ 33,51 (208 págs.);
Lançamento: Janeiro, 2008.

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Tags: Alice RuizCrítica LiteráriaDois em umEditora IluminurasLiteraturamúsica popular brasileiraPoesiaresistência

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