O encerramento das atividades da Cosac Naify, nesta segunda-feira (30), é um ponto final na trajetória de uma das mais importantes editoras brasileiras. Fundada em 1997 pelos cunhados Charles Cosac e Michael Naify, a editora se destacava pelos projeto gráficos luxuosos e exuberantes – o que, por vezes, a tornava menos competitiva.
Que a editora não andava bem das pernas não é novidade no mercado editorial. As atuais reformulações no catálogo pareciam ser um direcionamento a uma posição mais comercial e menos artística. Segundo Charles Cosac, em entrevista ao Estadão, os novos rumos editoriais foram fundamentais para que tomasse a decisão de fechar as portas. “Somos uma editora cult, cujos livros são destinados a professores acadêmicos e estudantes de arte, e não gostaria de ver nossa linha editorial desvirtuada”, afirmou o publisher.
Quando a editora surgiu, a ideia dos sócios era criar um selo especializado em livros de arte. Sua primeira obra foi justamente Barroco de Lírios, do artista plástico Tunga e, ao longo dos anos, publicou verdadeiros monumentos à arte, como Da Antropofagia A Brasília – Brasil, 1920-1950, de Jorge Schwartz, e os catálogos de várias bienais.
O conceito inicial praticamente morreu, ainda que vários livros de arte continuassem sendo lançados, mas a editora conquistou o público com obras importantes da literatura contemporânea. A Cosac Naify é responsável por editar no Brasil três importantes escritores e que, guardada as devidas proporções, são considerados best seller na casa. O mais popular é o português Valter Hugo Mãe, conhecido pelos romances a máquina de fazer espanhóis e o filho de mil homens. O chileno Alejandro Zambra (leia aqui nossa entrevista com o escritor) autor do belíssimo Bonsai, e o catalão Enrique Vila-Matas também fazem parte do catálogo de mais de 1.600 títulos.
Recentemente, uma coletânea com os poemas do italiano Pier Paolo Pasolini também chegou às livrarias (leia aqui).
Somos uma editora cult, cujos livros são destinados a professores acadêmicos e estudantes de arte, e não gostaria de ver nossa linha editorial desvirtuada, afirmou o publisher.
Fim de uma era
Desde 2012, a Cosac Naify vinha adotando métodos mais ortodoxos, como a criação da coleção Portátil, para livros de bolso, e alterações em seus preceitos editoriais, o que incluiu a contratação de profissionais de editoras concorrentes para torná-la mais acessível. O que, pelas declarações do seu fundador, se tornou um grande desagrado.
Apesar de não ter declarado falência, o editor admitiu que a empreitada não deu o retorno financeiro esperado. “Mas não estou culpando ninguém, nem a Dilma nem a alta do dólar”, comentou ao Estadão.
O fim da era Cosac Naify esteve entre os assuntos mais comentados nas redes sociais na noite desta segunda. Muitos escritores e fãs da editora se manifestaram. A postagem do jornal chegou a ter mais de 700 likes e quase 100 compartilhamentos. No Twitter, o tema também está entre os Trend Topics.
Mercado
A Cosac Naify era uma das editoras mais relevantes do mercado brasileiro a ainda não fazer parte de um grupo editorial – como a Companhia das Letras, parte do grupo multinacional Random House, dono da Penguin, ou o Grupo Editorial Record, que detém selos como José Olympio, Civilização Brasileira e Best Bolso. Em termos práticos, isso significa que as opções para o leitor se reduzem e há menos players no mercado, ou seja, a concorrência é menor.
Entre as editoras ‘solitárias’ que sobrevivem estão a Editora 34, responsável pela publicação de uma grande coleção de literatura russa, a Rádio Londres, inaugurada em 2014 e que tem em seu catálogo obras de escritores há muito esquecidos por aqui, a curitibana Arte & Letra, que também dá ao projeto gráfico uma atenção especial, e a Zahar, que edita as obras do polonês Zygmunt Bauman.
Enfim, 2015 não está sendo um ano fácil para a cultura.
Repercussão nas redes socais
declaro meu respeito pela decisão de charles cosac anunciando o encerramento da cosac naify.charles, meu amigo, terá…
Posted by Valter Hugo Mãe on Monday, November 30, 2015
Em entrevista exclusiva ao Cultura Estadão, editor anunciou fim da marca #estadão
Posted by Estadão on Monday, November 30, 2015
É com muito (muito!) pesar que compartilhamos essa notícia:http://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,referencia-no-mercado-por-livros-de-arte-de-luxo–cosac-naify-fecha-as-portas,10000003450
Posted by Suplemento Pernambuco on Monday, November 30, 2015
Notícia mais do que triste para o mundo dos livros 🙁
Posted by Literatortura on Monday, November 30, 2015