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‘Abaixo do Paraíso’: tudo é distância

Em 'Abaixo do Paraíso', André de Leones explora o submundo da política brasileira para contar uma história angustiante sobre fugas e reencontros.

porEder Alex
11 de maio de 2016
em Literatura
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'Abaixo do Paraíso': tudo é distância

Imagem: Reprodução.

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Cristiano, um sujeito com um passado nebuloso, transita com desenvoltura pelo esgoto da política brasileira. Através dele, pacotes passam de mão e o dinheiro segue seu fluxo. Foda-se o que há dentro dessas encomendas, o importante é manter a máquina pública funcionando. E é aí que o bicho pega, pois se um dente desta velha engrenagem quebrar, ele terá que ser arrancado à força, então o melhor a fazer é fugir.

Abaixo do Paraíso, lançado pela editora Rocco, é o sexto livro do escritor goiano André de Leones. Aqui o autor demonstra um amadurecimento de seu universo literário, não só pela sólida arquitetura da narrativa, como também pelo esmero no uso da linguagem. Não falo de firulas sintáticas, mas, sim, do escritor que tem bom ouvido e sabe empregar a oralidade de modo a nos fazer sentir empatia pelos personagens, por mais filhos da puta que eles sejam.

Embora o livro parta de um imbróglio envolvendo políticos corruptos (isso é pleonasmo?) e até seja eventualmente compreendido como um produto de seu tempo, dada a atualidade do tema, creio que neste romance interessa menos o submundo do paletó e gravata do que o desmoronamento moral e psicológico do personagem. Abaixo do Paraíso fala sobre as distâncias entre uma solidão e outra (o sexo como salvação niilista), fala sobre um homem tentando escapar do presente refugiando-se num passado que, em vez de ser um porto seguro, talvez seja o seu verdadeiro algoz: “Os restos de um muro circundado uma casa que não estava mais lá, que já não existia, que fora derrubada. Balançou a cabeça, sorrindo com tristeza. Colocar abaixo, erguer. Reformar. Coisas desfeitas e feitas e refeitas para ocupar o tempo, mas que também o sinalizam”.

O fato de parte da narrativa se passar em um hotel, inclusive com uma personagem que mora lá, é emblemático, pois um hotel é uma espécie de não-lugar, um espaço transitório entre a chegada e a partida. Em geral, ele não é um lar para onde se anseia retorno. Não ter para onde voltar é tão triste quanto não saber para onde ir e o que define Cristiano (e a maioria de nós?) é justamente essa falta de bússola. “A sensação de sufocamento crescera no decorrer dos anos. Não o incomodava ser um tarefeiro, um leva e traz a serviço de aspones do reizinho, e a ausência de incômodo era fruto de uma gratuidade essencial: ele nunca quis ser nada em particular, talvez pensando que, em um dado momento, algo aconteceria e a vontade de fazer alguma coisa, qualquer coisa, surgiria. Mas nada acontecera. Nada surgira. Agora, aos 29 anos de idade, as costas viradas para o boteco esvaziado, ele se via brutalizado pela inutilidade a que se resumia sua existência. Não era nada. Não havia nada que quisesse ser”.

Aqui o autor demonstra um amadurecimento de seu universo literário, não só pela sólida arquitetura da narrativa, como também pelo esmero no uso da linguagem.

André de Leones optou por empregar um ritmo um tanto atípico à narrativa. O livro começa bem acelerado e violento, mas aos poucos vai pisando no freio na busca de silêncios e contemplações. O recurso pode frustrar o leitor que anseia por ação e reviravoltas, contudo o anticlímax acaba por se provar no mínimo interessante, pois ele permite observarmos uma dimensão mais humana e verossímil daqueles personagens. A questão poderia até ser interpretada como um problema de ritmo (caso não fosse uma opção consciente), mas aqui a densidade literária e a reflexão se sobrepõem à pirotecnia e aos truques narrativos. O mesmo vale para o estilo da escrita: se as frases se alternam entre a primeira e terceira pessoa num mesmo parágrafo, por exemplo, ou se elas abruptamente se tornam prenhes de elipses, isso corresponde a um efeito estético que impacta na construção dos personagens, no seu modo de pensar, no seu estado psicológico em determinada situação, nas relações entre eles, etc. Fazer esse tipo de amarração, mexer nesse tipo de engrenagem linguística sem deixar a história artificial ou confusa não é nada fácil de se fazer e mostra que não estamos diante de um autor inexperiente.

Os aspectos técnicos fluem bem, mas o que realmente torna Abaixo do Paraíso um livro foda é a maneira um tanto vertiginosa como a história nos desestabiliza emocionalmente. Conforme avança rumo ao futuro todo manchado por um passado imundo, Cristiano vai retomando histórias e lembranças que fizeram parte de sua infância e adolescência, algumas são até engraçadas, mas a maioria exala amoralidade e desesperança, como se os erros daquela família, daquela cidade, daquele mundo, caminhassem em círculos atemporais.

E em meio a tantas fugas, o peso maior que ele carrega é o fato de que a morte da mãe é uma distância impossível de ser percorrida. Esta ausência é o que define a relação entre Cristiano e seu pai. “Jamais havia raiva entre o dois, talvez porque a raiva seja, com frequência, o sinal de uma proximidade intolerável, e pai e filho estivessem apartados pelo espaço em branco deixado por quem partira”. Este livro é, sim, sobre corrupção e política, mas é, também, sobre espaços e distâncias, sobre voltar pra casa e tentar lidar com um vazio imenso e insuportável.

ABAIXO DO PARAÍSO | André de Leones

Editora: Rocco;
Tamanho: 256 págs.;
Lançamento: Março, 2016.

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Tags: Andre de LeonesBook ReviewcorrupçãoCríticaCrítica LiteráriaEditora RoccoLiteraturaLiteratura brasileira contemporâneapolíticaResenhaReview

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