O sucesso na TV e no cinema é inquestionável. O talento genético para as artes também. Pelas câmeras, Fernanda Torres é conhecida em todo o Brasil. Já pelas páginas dos livros, o sucesso é recente. A atriz despontou na literatura no final do ano de 2013, quando lançou Fim, sucesso de crítica e público. Uma estreia despretensiosa, com resultado surpreendente. Pouco mais de um ano depois, Fernanda lançou seu mais recente trabalho: Sete Anos, livro de crônicas, publicado pela editora Companhia das Letras.
A obra reúne textos já publicados pela atriz em revistas como a Piauí e Veja, e jornais como a Folha de S. Paulo. Os temas que servem de inspiração para cada um textos são variados. Vão de cinema a política, passando por fatos cotidianos, vida pessoal e carreira da atriz.
Na apresentação de seu livro, Fernanda conta ao leitor como se introduziu na literatura e destaca a seleção de textos definidos para a obra. Como a própria escritora e atriz classifica, as crônicas foram divididas em blocos, mas podem ser lidas separada e aleatoriamente.
Em trecho inicial, escreve: “Um ator, mesmo que a sós em cena, carece de um aparato custoso para exercer seu ofício. No mínimo, do público ao redor dele. É uma profissão coletiva e extrovertida. Poder escrever que vinte elefantes entraram num quarto sem que eles tenham que estar lá é uma libertação sem nome para alguém acostumado à rotina teatral da missa de corpo presente”.
E é exatamente isso. Fernanda sai de seu habitat natural – ou, pelo menos, cômodo – e se aventura pelas linhas escritas, não ditas. Se arrisca na criação imaterial, onde não há fronteiras nem limites. É ela quem cria seu cenário, ajeita os móveis e posiciona os personagens. Não interpreta. Se faz interpretar.
Fernanda sai de seu habitat natural – ou, pelo menos, cômodo – e se aventura pelas linhas escritas, não ditas. Se arrisca na criação imaterial, onde não há fronteiras, nem limites.
Pelas crônicas, descobre-se uma autora de qualidade. Ela mesma, inclusive, afirma ter editado os textos que foram inicialmente publicados nas revistas e jornais. Sinal de amadurecimento literário: rever suas criações e eliminar adjetivos, vícios de linguagem e aparar as arestas. Moldar e construir, podando o excesso e acrescentando suas nuances.
Em Sete Anos há críticas, análises, relatos e humor. A comédia, aliás, eternizou Fernanda Torres com sua personagem Vani, protagonista da série de sucesso Os Normais, produzida e veiculada pela Rede Globo entre 2001 e 2003. O teor cômico é completamente diferente no livro, mas satisfaz pela habilidade com que é conduzido pela autora.
Karup, o primeiro filme da carreira da atriz, abre a seleção de textos do livro. É uma prazerosa experiência inicial, que relata a viagem da equipe de atores e técnicos pelo Alto Xingu durante as filmagens. A partir daí, as eleições de 2010, notícias internacionais e as férias de Fernanda se transformam em 186 páginas de vivências variadas e de leitura agradável.
Fernanda transita bem pelos temas. Não propõe inovações ou rebuscamentos. Conduz textos de maneira limpa, mas garante ao leitor um simpático estilo particular, que nos faz aguardar por uma terceira obra.
SETE ANOS | Fernanda Torres
Editora: Companhia das Letras;
Tamanho: 192 págs.;
Lançamento: Outubro, 2014.