Originalmente publicados em 2020 pela Editora Moinhos, os quatro volumes da “Coleção Artaud” voltam às prateleiras em nova edição. Poeta, ator, roteirista e diretor de teatro francês, Antonin Artaud foi conhecido por sua intensidade e experiências tumultuadas.
O retorno das obras traduzidas por Olivier Dravet Xavier garantem ao leitor a oportunidade de mergulhar no universo criativo do francês, que mesmo falecido há 75 anos segue inspirando artistas a desafiar as convenções teatrais.
O revolucionário do teatro
Antonin Artaud mexeu com as bases do teatro ao longo da história. Sua abordagem revolucionária e suas ideias vanguardistas transformaram a forma como o teatro é concebido e apreciado. Artaud nasceu em Marselha, na França, em setembro de 1896. Sua vida foi marcada por uma série de desafios, incluindo problemas de saúde mental e dependência de drogas. No entanto, elas moldaram sua visão única do teatro e influenciaram profundamente seu trabalho.
Artaud foi um dos principais defensores do Teatro da Crueldade, abordagem radical que buscava romper com as convenções teatrais tradicionais. O dramaturgo acreditava que o teatro deveria ser uma experiência visceral e impactante, capaz de despertar emoções profundas e confrontar o público com a realidade humana.
“Eu considero o Teatro da Crueldade o resultado de uma pesquisa que Artaud faz durante anos sobre o próprio teatro”. Quem diz isso é o ator, dramaturgo e jornalista Bruno Zambelli. “Ele tem uma ideia muito clara de devolver ao teatro sua dimensão sagrada, não apenas como uma arte que está ali pronta para ser reproduzida, industrializada, embalada e consumida”, cita. Não à toa, sua visão desafiadora do teatro influenciou gerações de artistas, entre eles o britânico Peter Brook e o brasileiro José Celso Martinez Corrêa.
Legado de Antonin Artaud
O legado do dramaturgo francês é vasto e multifacetado. Sua influência pode ser vista em várias áreas do teatro contemporâneo.
O legado do dramaturgo francês é vasto e multifacetado. Sua influência pode ser vista em várias áreas do teatro contemporâneo, desde a performance até a direção e a dramaturgia. “O trabalho dele não foi valorizado à época. Artaud foi considerado por muitos um louco, mas ele abre as portas para o teatro moderno”, explica Zambelli. “Por suas incursões nos palcos e no cinema não terem sido bem-sucedidas, ele acaba um homem de maior produção textual do que teatral”, complementa.
Na direção teatral, a visão do francês desafiou as convenções tradicionais de encenação. Ele acreditava que o diretor deveria ser um criador, capaz de transformar a experiência teatral em algo visceral e transformador. “O grande legado dos escritos de Artaud talvez seja fazer com que atores, diretores e encenadores continuem a busca de encontrar o teatro na sua potência máxima dentro dos ritos que existem. Compreender que o teatro não tem dono, não tem classe social. Ele está na Ópera de Paris e em uma tribo indígena“, sinaliza Zambelli.
Obras como O Teatro e seu Duplo deixaram marcas na dramaturgia. Alienação, violência e busca pela verdade interior foram temas explorados por Artaud.
“Coleção Artaud”
A “Coleção Artaud” é formada por quatro livros. Em Os Tarahumaras, o dramaturgo revela sua visão poética única, onde a poesia transcende as meras palavras e se manifesta no próprio corpo e nas ações. Sua vivência com os Tarahumaras desperta uma percepção histórica e mágica, explorando os aspectos etnográficos, antropológicos e espirituais presentes nos mitos.
Textos Surrealistas reúne os escritos de um jovem Artaud durante sua colaboração com os surrealistas franceses entre 1924 e 1928. Nesses escritos é possível enxergar a busca fervorosa do autor por expressões do espírito que vão além da racionalidade europeia. Composto por quatro textos poderosos, Para Acabar com o Juízo de Deus revela o aprendizado de Artaud ao confrontar a realidade da existência humana.
A coleção fecha com Correspondência com Jacques Rivière, apresentando ao leitor as cartas trocadas entre Antonin Artaud e o escritor e crítico francês, editor da revista La Nouvelle Revue Française e nome incontornável à intelectualidade francesa do início do século XX.
Coleção Artaud | Antonin Artaud
Editora: Moinhos;
Tradução: Olivier Dravet Xavier;
Tamanho: 136 págs. (Os Tarahumaras); 92 págs. (Para Acabar com o Juízo de Deus); 64 págs. (Correspondência com Jacques Rivière); 97 págs. (Textos surrealistas);
Lançamento: 2020.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.