Nas últimas semanas, essa coluna falou de diferentes discos, de Linn da Quebrada a Willow, porém mesmo escrevendo semanalmente por aqui, ainda vão ficando discos para trás e eu até gostaria de ter tempo para escrever com detalhamento de todos eles, mas é quase impossível.
Apesar de qualquer debate em que se fale sobre uma possível morte do formato disco, [highlight color=”yellow”]ele segue firme e forte como uma das formas mais interessante de entrarmos em contato com o trabalho de um artista[/highlight], por isso separei aqui cinco discos que eu tenho ouvido bastante e que acredito que merecem chegar aos seus ouvidos também.
São cinco artistas de gêneros distintos, do R&B ao gótico, do house ao soft rock, porém todos dentro de um espectro de canção pop, por isso mesmo eu acredito que esses artistas devem ser vistos como “pop”, talvez de forma obtusa, mas ainda assim pop. Vamos à lista:
1) Tori Amos – ‘Native Invader’
!['Native Invader', Tori Amos 'Native Invader', Tori Amos](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/11/2017_Native_Invader-1024x1024.jpg)
Native Invader é o 15º álbum de Tori Amos e consegue manter o alto nível em que a própria Amos colocou sua carreira. Misturando seu piano a inúmeros instrumentos e a batidas eletrônicas, a cantora cria um trabalho que passeia entre a passionalidade e o confuso cenário político da atualidade, tudo através da intrincada poesia que sempre marcou suas composições.
Com uma hora de duração, esse é um disco que pede nossa atenção, com cuidado, pois há momentos típicos de Tori Amos, como os mais de sete minutos de “Reindeer King”, porém outros mais acessíveis como em “Cloud Riders” ou “Up The Creek“, que conta com os backing vocals de Tash, filha de Tori. Outras faixas, como “Chocolate Song”, “Bang” e “Mary’s Eyes”, ajudam a formar esse cenário quase onírico, que busca ecos em forças e figuras históricas (ou míticas) da formação dos Estados Unidos, para formar um olhar mais esperançoso em meio ao caos do mundo.
2) Kelela – ‘Take Me Apart’
!['Take Me Apart', Kelela 'Take Me Apart', Kelela](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/11/warpcd287-1024x1024.jpg)
Kelela já havia lançado algumas mixtapes e EPs desde 2013, então seu nome sempre aparecia em listas de melhores lançamentos, por isso mesmo é quase difícil acreditar que Take Me Apart é seu debut, já que parecemos íntimos dela há tanto tempo.
De qualquer modo, esse acaba por ser o melhor trabalho de Kelela até agora: coeso, sensual e extremamente envolvente, Take Me Apart é um discão que merece ser ouvido, dançado e compartilhado por aí. Com referências fortes ao R&B dos anos 90, o debut da artista sai com ar cool por causa de seu respaldo da crítica especializada, porém é um disco que tem todo potencial para ser sucesso pop, basta ouvir faixas como “LMK” e “Blue Light“.
Amiga de balada de Björk, Arca e Solange, Kelela é uma estrela que merece sua atenção: duvido você passar ileso a cantigas como “Onanon” e “Enough”.
3) Jessie Ware – ‘Glasshouse’
!['Glasshouse', Jessie Ware. 'Glasshouse', Jessie Ware.](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/11/JessieWareGlasshouse.jpg)
Nós já sabemos que a Jessie Ware é uma diva desde seu primeiro disco, Devotion, e mesmo que Tough Love tivesse momentos menos inspirados, nada disso tirou a aura de poder que emana da cantora inglesa. Glasshouse, seu novo lançamento, tem a força e o charme que tanto nos cativa em Jessie Ware, basta você ouvir os primeiros singles do disco, “Midnight” e “Selfish Love”.
Composto entre muitas mãos (entre elas as de Ed Sheeran e Nina Nesbitt) e produzido por mais outras tantas, como é usual em álbuns de grandes estrelas pop (Jessie nunca estourou na América, mas é uma estrela na Inglaterra), Glasshouse consegue se manter coeso, flertando com diferentes propostas a cada faixa, sem que o disco caia na cilada de parecer uma única grande canção em looping (o que era um problema de Tough Love).
De caráter romântico e extremamente sensual, o terceiro disco de Jessie Ware é mais uma prova de que ela deixaria Sade orgulhosa. Ouçam com uma taça de champanhe na mão, pois chiquérrimo.
4) Hercules & Love Affair – ‘Omnion’
!['Omnion', Hercules & Love Affair 'Omnion', Hercules & Love Affair](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/11/hercules_and_love_affair_omnion-portada.jpg)
Os primeiros singles do quarto disco do Hercules & Love Affair já mostravam que algo diferente estava por vir: primeiro veio uma faixa bem anos 80 ao lado de Faris Badwan, do The Horrors, depois surgiu uma improvável e atmosférica faixa com a Sharon Van Etten. Omnion saiu e a conclusão é que este é o disco mais íntimo do projeto capitaneado por Andy Butler, isto é, no nível em que house music pode ser considerada íntima.
Como usual no projeto, desde seu disco de estreia, chamam atenção aqui as diferentes participações, como as já citadas anteriormente, e, além disso, Gustaph e Rouge Mary (que já faziam turnê com Andy desde o disco anterior do Hercules), os islandeses do Sísý Ey e os libaneses do Mashrou’ Leila, que cantam na ótima “Are You Still Certain?”.
Apesar disso tudo, destaca-se “Fools Wear Crowns”, uma dolorosa faixa sobre alcoolismo e vício, onde, pela primeira vez, ouvimos a voz de Andy Butler como cantor; seus vocais não são tão maravilhosos quanto de seus convidados, porém a sinceridade da canção é o que nos conquista. Enfim, pegue a maquiagem pesada, coloca um look mais dark e vem pra pista com o Hercules!
5) Zola Jesus – ‘Okovi’
!['Okovi', Zola Jesus 'Okovi', Zola Jesus](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/11/a0909856373_10-1024x1024.jpg)
Americana de descendência russa, Zola Jesus tornou-se famosa por sua voz soturna e suas canções góticas, que emulavam os anos 80, porém seu último disco, Taiga, tinha escolhas mais etéreas, que traziam canções pop épicas, numa linha mais Björk. Okovi, lançado este ano, retorna ao lado mais soturno de Zola, com canções curtas, atmosféricas e trevosíssimas.
O disco foi produzido após uma fase em que Nika Roza Danilova (a mulher por trás de Zola Jesus) enfrentou crises depressivas, além disso ela teve que lidar com outras experiências barra pesadas em seu entorno. De uma tentativa de suicídio de um amigo próximo, por exemplo, surge a poderosa “Siphon”, faixa que foi lançada como single.
De temas pesados e existencialistas, Okovi poderia se tornar um disco difícil, porém o que acontece é o contrário, a violência e a tensão das batidas aliadas a voz forte de Zola tornam este um álbum sincero e catártico, como a exumar os cadáveres e dissecar as dúvidas.