Quando o Paramore surgiu, nos idos de 2005, pouca gente adulta deu bola. Quase nada no som e nas letras do debut All We Know Is Falling conversava com ouvintes mais experientes, por um motivo bastante óbvio: era uma banda de jovens norte-americanos, fazendo música para adolescentes e lidando com temas tradicionais da idade, como corações partidos e questões religiosas difusas.
Outro agravante para os esforços do Paramore em serem levados a sério era o papel da vocalista Hayley Williams como elemento central da banda – o fato de uma jovem mulher estar à frente de um grupo de pop-punk atraiu comparações inevitáveis a outro fenômeno de descrição semelhante, a canadense Avril Lavigne. Mas o tempo ficou encarregado de mostrar que o Paramore tinha muito mais a oferecer, e After Laughter está aí como prova definitiva disso.
Nos doze anos entre All We Know Is Falling e After Laughter, o amadurecimento e o enfrentamento dos problemas que a vida adulta traz já vinham se tornando temas cada vez mais recorrentes nos álbuns da banda. Se Riot! (2007) não era muito mais do que um desenvolvimento natural da pegada jovens-roqueiros-com-pressa (apesar da entrada do guitarrista Taylor York, que viria a ser um dos cabeças do grupo), Brand New Eyes (2009) já mostrava um Paramore mais experiente e preparado para envelhecer – ainda jovens e roqueiros, mas demonstrando pé-no-chão e personalidade.
Contudo, apesar da visível evolução, o ponto de virada mesmo ainda estava por vir: Paramore (2013) foi um marco na carreira do grupo, tanto pela sonoridade mais diversificada quanto pelas mudanças de formação, com as saídas de dois dos fundadores da banda, os irmãos Josh e Zac Farro. Nesse álbum, as guitarras rápidas e pesadas passaram a coexistir com sintetizadores, ukuleles e até influências de funk e uns corais meio gospel, como na excelente “Ain’t It Fun” – em Paramore, o ouvinte encontra os refrãos grudentos de sempre, mas sobre uma variedade instrumental mais abrangente. Além disso, o disco traz Hayley se firmando como grande cantora e letrista: “So, what are you gonna do when the world don’t orbit around you?”, questiona, acusando as marcas da (pouca) idade.
Os arranjos das canções chegaram a ambientes até então desconhecidos para o Paramore, levando After Laughter para regiões muito diferentes do emo/pop-punk do passado.
Quatro anos e mais algumas mudanças de formação (especificamente, a saída do baixista Jeremy Davis e o retorno do baterista Zac Farro) depois, chegamos a After Laughter. Logo de cara, o quinto registro em estúdio do Paramore mostra quão diferentes eles estão: “Hard Times”, a faixa que abre o álbum, é uma ode aos anos 80, com direito a uma introdução com marimba, um vocoder meio Daft Punk e um groove jamais visto na discografia da banda. E por trás dessa aura festiva, a letra da canção explicita o sabor agridoce do álbum, com Hayley cantando sobre tempos confusos que viveu: “Where do I go? Gimme some sort of sign/Hit me with a lightning, maybe I’ll come alive”.
Aliás, o título do álbum (“Depois da risada”, em tradução literal) carrega esse mesmo contraste de humores. Em entrevista à revista Entertainment Weekly, Hayley explica que “After Laughter” faz referência àquela expressão que sucede uma gargalhada mais intensa, numa espécie de retorno à realidade.
Os arranjos das canções chegaram a ambientes até então desconhecidos para o Paramore, levando After Laughter para regiões muito diferentes do emo/pop-punk do passado. Os riffs de guitarra ligeiros e distorcidos de outrora dão lugar a frases dançantes, como a levadinha safada (no bom sentido) meio new wave de “Rose-Colored Boy”, que chega a lembrar – sem copiar – bons momentos do Blondie. “Caught in the Middle”, outro destaque, tem um quê de ska, que traz à memória um pouco dos primeiros discos do No Doubt.
Leia também
» ’13 Voices’: o álbum que realmente surpreendeu
» Um novo Blink-182, um novo Matt Skiba também
No entanto, apesar das novas influências, algo do velho Paramore ainda está ali, só que escondido: “Grudges” tem uma estrutura e um refrão que, caso fosse desenvolvida com um pouco mais de peso e uma bateria mais linear, caberia fácil em Brand New Eyes. Enquanto isso, a balada “26”, com suas cordas proeminentes, não soaria estranha se estivesse no meio de Paramore, o álbum de 2013.
Tematicamente, After Laughter dá continuidade à busca pela maturidade trazida nos dois discos anteriores: em vários momentos, o disco apresenta uma Hayley determinada, tentando encontrar seu lugar em meio às expectativas jogadas sobre ela (“Idle Worship”), mas também realista e um pouco desapontada com aqueles que a cercam (“Told You So”, o segundo single do álbum).
Todo esse lado reflexivo, cantado em cima de um disco tão “ensolarado” musicalmente, confere a After Laughter um clima de ambiguidade muito interessante, que pareceria improvável se previsto lá em 2005. No fim das contas, é um disco sobre evolução, que demonstra o crescimento de alguns amigos que estão ouvindo coisas diferentes e pensando como adultos – muito disso, claro, se deve a Hayley, que está cantando e escrevendo cada dia melhor.
O Paramore se descolou completamente do rótulo de pop-punk e abraçou – de vez e sem vergonha – o mundo do pop de qualidade. Quem nunca ouviu a banda tem em After Laughter uma ótima porta de entrada e um vislumbre do provável caminho a ser trilhado. Já os fãs antigos devem se sentir confortáveis, porque o álbum mostra que, apesar das diferenças nas letras e na sonoridade, Hayley e seus colegas continuam sendo eles mesmos – e aprenderam a usar o passar do tempo a seu favor.