No último dia 27 de maio, o mundo da música perdeu mais uma importante figura. Gregg Allman, fundador, vocalista, guitarrista e tecladista da The Allman Brothers Band, morreu em decorrência do agravamento de problemas de saúde com os quais o músico já lutava há um bom tempo. Diagnosticado com Hepatite C em 1999, o cantor chegou a passar por um transplante de fígado em 2010.
Mas sua morte, aqui, não vem necessariamente ao caso. Gregg, claro, era a voz e alma do Allman Brothers, conjunto que fundou com seu irmão, Duane, no ano de 1969. A banda dos irmãos Allman é brindada no texto de hoje pela maravilhosa e sempre certeira mistura de ritmos que fizeram do conjunto os expoentes máximos do chamado southern rock, gênero consagrado de bandas da região Sul dos Estados Unidos, que ganhou enorme destaque entre o fim dos anos 60 e início dos 70.
Esta virtuosa derivação do rock’n’roll juntava alguns de seus elementos básicos, isto é, blues, soul, jazz e country, numa miscelânea de sons empolgantes, rústicos e harmoniosos. “Raiz”, diriam alguns, numa época em que a psicodelia e o experimentalismo passavam a rolar soltas.
A fórmula, pode-se dizer, era simples: uma guitarra eletrificada numa pegada blues, teclados dançantes, linha de baixo e bateria elementares, mas potentes; letras simples e que lamentam um amor perdido, ou narram o cotidiano pobre de um sulista qualquer. Tudo isso com aquele delicioso e marcante sotaque caipira do Sul dos Estados Unidos e doses razoáveis de improviso. Uma maravilha de acordes desfilados que simplesmente se fazem valer da junção de tudo aquilo que já existia muito antes do rock ser incorporado à indústria pop.
Poderia se citar aqui ainda outros nomes de peso como Creedence Clearwater Revival, Lynyrd Skynyrd, ZZ Top, Canned Heat, ou até mesmo Stevie Ray Vaughan e sua Double Trouble, que também surfaram com maestria nessa onda, este último já nos anos 80, é verdade. Mas, talvez, o exemplo mais acabado dessa mistura seja o fantástico álbum ao vivo, At Filmore East, claro, do Allman Brothers, lançado em 1971. Para muitos, o maior trabalho ao vivo feito pela indústria da música.
Aliás, desafio o caro leitor a ouvir o referido disco (disponível no YouTube) e se manter passivo, sem sequer mover as mãos e a cabeça, ou esboçar uma dança enquanto é contaminado pelo som das canções do álbum.
https://www.youtube.com/watch?v=hIRBLUh3MGM
Apesar de alguns períodos em hiato e a troca constante de membros, o grupo seguiu sua trajetória no southern rock nos anos 70 e nas décadas seguintes.
A banda fez maravilhas numa performance que mistura versões de canções históricas de blues e trabalhos autorais. Cheia de improvisações, a apresentação ressalta a qualidade artística dos demais integrantes do Allman Brothers, que além de Gregg (vocais e teclado) era composto, à época, por Duane Allman (guitarra) Dickey Betts (guitarra) Berry Oakley (baixo) Jay Johanson (bateria) e Butch Trcuks (percussão).
O conjunto formado no estado da Florida (terra também do Lynyrd Skynyrd) debutou na cena musical norte-americana em 1969 com o disco homônimo The Allman Brothers Band, lançado pelo consagrado selo da Atlantic Records. O segundo trabalho em estúdio do conjunto foi Idlewild South, lançado no ano seguinte. At Filmore East é o terceiro álbum da banda e foi gravado na casa de shows de mesmo nome, na cidade de Nova York. A histórica apresentação em julho de 1971, e que virou registro fonográfico, marcou também uma das últimas apresentações do fenomenal Duane Allman.
Meses depois, aos 24 anos, Duane morreu precocemente em um acidente de moto. A meteórica, porém brilhante, carreira do irmão mais velho de Gregg foi suficiente para ele ser listado pela revista Rolling Stone, em 2009, como um dos 10 maiores guitarristas da história da música. Após sua morte, a banda ainda lançou Eat a Peach, em 1972, e seu grande sucesso comercial, Brothers and Sisters, de 1973, que conta com grandes hits da banda como “Ramblin’ Man” e “Jessica”.
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Apesar de alguns períodos em hiato e a troca constante de membros, o grupo seguiu sua trajetória no southern rock nos anos 70 e nas décadas seguintes. Nomes como o Lynyrd Skynyrad e o Canned Heat, que também se caracterizaram pela rotatividade de seus membros, seguiram igualmente fazendo sucesso no gênero, mesmo após sua fase áurea ter se findado ainda na década de 1970.
A morte de Gregg Allman deixa mais um vazio na música. É mais um nome da talentosíssima geração nascida nos anos 40, que fez sucesso nos 60 e 70 que nos deixa – algo que infelizmente tem acontecido com uma certa frequência. Hábil tecladista e inimitável vocalista, Gregg entrou para a história com seu rock, que, para o próprio músico, nada tinha de “southern”. “O rock é sulista por definição, porque nasceu aqui”, dizia Gregg, criticando tal nomenclatura. E é mentira? O que seria do rock sem a infalível fusão sulista de country e blues?