É possível um grupo seguir em frente sem que seu passado seja um obstáculo? Talvez esse seja o grande desafio para muitas bandas após um início promissor, e é justamente o que os ingleses do Bloc Party estão enfrentando nos últimos anos.
Depois de começarem com tudo no ótimo Silent Alarm, que fez toda imprensa especializada dividir a nova cena londrina em quatro bandas indie (juntamente com Arctic Monkeys, The Libertines e Franz Ferdinand), a banda a banda liderada por Kele Okereke acumulou críticas pesadas aos seus trabalhos, chegando ao ponto de serem tachados como um grupo exageradamente pretensioso.
Four, álbum de 2012, foi mal recebido pela crítica, que em partes estava certa. Se o grupo tentou retornar às origens, ainda faltava algum tempero, como se o esforço em soarem perfeitos em estúdio tivesse feito com que eles esquecessem de acrescentar alma no disco. Para deixar tudo ainda mais azedo, pouco após o lançamento, o baterista Matt Tong deixou o Bloc Party. Parte do quarteto original, o que foi um baque para a banda.

Já em 2015, o baixista Gordon Moakes, outro da formação original, também deixou a banda, dedicando-se exclusivamente ao seu novo trabalho, o Young Legionnaire. Algo soava estranho nos bastidores, e a mensagem de Moakes em suas redes sociais servia como uma tradução disso. “Update para os fãs: eu não estou envolvido na mais recente encarnação do Bloc Party.”
Kele Okereke e companhia decidiram, então, fazer de HYMNS, quinto disco de estúdio do grupo londrino, um trabalho mais instrospectivo. Toda aquela energia frenética dos primeiros trabalhos (especialmente em Silent Alarm) deram espaço a letras mais sutis, uma abordagem mais contida. Desta forma, apesar de interessante, HYMNS soa relativamente estranho, em parte pela falta de coesão na escolha das faixas que compõe o trabalho.
O disco inicia com uma dançante “The Love Within”, carregada em sintetizadores e mais frenética, talvez a mais próxima do “velho” Bloc Party, mas, também, um tanto Hot Chip. A mudança de dois integrantes é notada a cada faixa, ainda que os principais letristas da banda tenham permanecido. “Only He Can Heal Me” parece uma continuação da música anterior, apenas mais contida. Okereke parece realmente fechado, pessimista, ainda que as batidas da canção tentam nos fazer dançar. Essa faixa diz muito sobre as sensações do músico, um “lugar sem esperança” em que seu espírito vive “sob pressão e sob a culpa”.

Okereke parece realmente fechado, pessimista, ainda que as batidas da canção tentam nos fazer dançar.
Em “So Real” e “The Good News”, Okereke e Lissack ficam um pouco mais otimistas liricamente falando (“you just need faith”, canta o vocalista), mas a energia do disco torna a ficar mais contida. A partir de “Fortress”, o Bloc Party insere camadas de R&B, embaralhando tudo que você pudesse imaginar do disco. Há uma sensualidade velada que é extravasada na forma como Okereke derrete-se ao cantar, e que se repete em “Different Drugs”.
“Into The Earth” tem blues, R&B e folk rock mixados em uma balada indie. “My True Name” mergulha na darkwave do Depeche Mode. O único problema da escolha é que Okereke não é Dave Gahan. Ainda que um bom músico, falta-lhe a potência vocal de Gahan, além do charme do músico de Essex, que destila com habilidade seu carisma através de notas musicais que, por vezes, nos fazem esquecer que há uma obscuridade no que o Depeche Mode canta.
“Virtue”, “Exes” e “Living Lux” terminam de vez de encarar essa virada new wave do grupo na parte final do disco. É bonito ver que o Bloc Party se permite arriscar, mas deixa um certo receio de ver o grupo se arriscando em um terreno em que eles parecem não ter total domínio. HYMNS é um disco interessante, ainda que não mais que mediano, mas continua distante do Bloc Party que conhecemos. O problema não é arriscar, mas, sim, fazer uma curva tão acentuada em sua carreira que soam tudo, menos eles mesmos.