Você goste ou não, muita coisa na música vem surgindo a partir da internet – ou dela fazendo combustível para fomentar sua existência no ambiente musical. Ana Vilela é o mais novo exemplo de sucesso meteórico catapultado pela força das redes. A música de Londrina, que lançou recentemente seu primeiro EP, Está Escrito, viu seu nome ganhar notoriedade quando, em outubro de 2016, subiu um vídeo com a música “Trem-bala” no YouTube. Dali para um dueto com Luan Santana no Caldeirão do Huck e o sucesso midiático foi um tiro. No embalo da fama conquistada com o single, a paranaense marca com timidez sua estreia.
Mallu Magalhães é um dos exemplos mais claros desse novo cenário na indústria musical. Elevada à categoria de nova estrela com o disco gravado de forma independente e disponibilizado no MySapece, contendo o hit “Tchubaruba”, hoje é nome consolidado na música nacional. Mas Mallu não foi a única. O duo Anavitória, A Banda Mais Bonita da Cidade e a youtuber Mariana Nolasco são exemplos também recentes desse movimento.
Ana Vilela conseguiu com “Trem-bala” criar um hit instantâneo, regravado pelo Padre Fábio de Melo e pelo sertanejo Luan Santana. A partir daí, criou-se um peso de seguir mostrando que é capaz de compor canções com a mesma delicadeza e sensibilidade. E aqui é preciso pontuar, novamente, que pouco importa se você gosta ou não da canção. Ana é um sucesso, fato. Sua canção conseguiu captar a beleza que se esconde nas coisas simples e teve a sorte necessária a todo artista de cair nas graças do grande público.
No entanto, Está Escrito carece de uma voz própria, de força e identidade que defina quem é Ana Vilela. As três canções que fazem parte do EP, “Maíra”, “Entrelinhas” e “Âmago”, seguem uma mesma estrutura lírica, de arranjos e de timbres. Exceção feita à presença de mais instrumentos, tudo soa muito próximo da canção que lhe deu fama. Difícil entender ao certo se a opção é somente da cantora ou se da equipe responsável pela produção do disco. A princípio, fica a sensação de que houve uma busca por reproduzir a mesma estética e, desta forma, obter o mesmo resultado midiático. Um erro imenso.
Está Escrito carece de uma voz própria, de força e identidade que defina quem é Ana Vilela.
Como todo produto da cultura de massa, o trabalho de Ana Vilela carece de maior complexidade, de capacidade de articular diferentes percepções de forma a construir uma representação da vida da artista. Como resultante fica a tentativa infértil e fria de construir uma fórmula sonora que em nada acrescenta tanto à artista quanto à música brasileira.
É importante pontuar aos desavisados: Está Escrito [highlight color=”yellow”]não é um disco ruim[/highlight]. A começar pela sutileza empregada em cada uma das músicas que compõem o disco. As letras são produto de uma nova geração, que pensa e vive outra realidade, outro contexto. Logo, conectam-se a esses ouvintes de uma forma muito particular. O empecilho, porém, está em não pensar a obra como um todo, transparecendo essa pequena linha de produção em busca de uma nova “Trem-bala”.
Ana Vilela ainda é nova. Do alto de seus 19 anos, já vimos que é capaz de criar uma bela canção. É chegado, portanto, o momento dela separar a jovem-adulta aspirante à artista da hitmaker que deseja seguir uma carreira consistente. Do contrário, teremos assistido um grande one-hit wonder deste final de década. Particularmente, [highlight color=”yellow”]acredito que ela é capaz de mais, então que nos mostre a que veio.[/highlight]