Em um país de dimensões continentais como o Brasil, poucas cidades estão no imaginário musical nacional como Brasília. Mas hoje a movimentação é bem diferente do que aconteceu com mais força durante os anos 80. E é no fluxo desta reescrita que a Supervibe se encontra.
Formada em 2015, a Supervibe une a essência dos power trios e a veia lisérgica do rock psicodélico. Sand Lêycia, Deivison Alves e João Ramalho carregam na bagagem dois EPs, o mais recente lançado em julho. Entre Clarão (2016) e Autóctone (2017) há diferenças claras na sonoridade do grupo. Enquanto no primeiro EP as referências sonoras se dispersavam ao longo das canções, em Autóctone fica evidente o mergulho do grupo no universo psicodélico que marca uma nova geração de artistas no Brasil.
Clarão, apesar de um fundo psicodélico, flertava com o peso conflitante do grunge e mesmo a visão de psicodelia proposta pelos Beatles em seus momentos menos lisérgicos. Autóctone já é mais maduro e concentrado em usar a excentricidade da vertente como instrumento de tradução do universo particular do trio. Colocados em perspectiva, é como se agora, finalmente, pudéssemos incluí-los nesse nicho em que também bebem seus conterrâneos Joe Silhueta e Almirante Shiva.
A força motriz do trabalho do trio de Brasília está, principalmente, em organizar seus arranjos e riffs de maneira que juntos compõem uma obra homogênea e frondosa.
Em contraposição ao primeiro EP, em Autóctone a Supervibe opta por cantar apenas em português. A escolha é acertada principalmente por agregar uma camada de originalidade à sonoridade proposta pelo power trio. A roupagem excessivamente mimética oriunda da interpretação em inglês dá espaço a um olhar mais organizado, demonstrando que a obra segue uma estrutura linear coerente, e zero encaixotada.
A força motriz do trabalho do trio de Brasília está, principalmente, em organizar seus arranjos e riffs de maneira que juntos compõem uma obra homogênea e frondosa. Não obstante, há bons momentos isolados ao longo das cinco faixas que estão no disco, ou seja, há espaço para que eles trabalhem um pouco de virtuosismo, porém, sem exageros. Mesmo a linha de baixos das canções tem um viés groovado forte, que faz a cozinha da banda brilhar nos momentos necessários e também configura um excelente pano de fundo para as peripécias realizadas por Ramalho na guitarra.
Dentro de uma vertente que cresce diariamente e, também, apresenta novos artistas com muito talento, a versatilidade da Supervibe pode ser vista como um enorme diferencial, capaz de diferenciá-la neste universo gigante e repleto de coisas boas que é a nova cena de psicodelia brasileira. Ainda por cima, pode servir de respiro ao próprio gênero, antes que o excesso de novas bandas venha sufocá-lo. A acompanhar os próximos passos da banda.
NO RADAR | Supervibe
Onde: Brasília, DF.
Quando: 2015.
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