Entre a cultura vibrante de Belém e a energia inesgotável da capital de São Paulo está Luê. Nascida no Pará, a cantora e violinista, de 29 anos, aos poucos vem construindo um projeto musical que une as experiências e influências de sua terra natal ao seu atual momento de descobertas pessoais em solo paulista. Em dois discos lançados, ela apresenta essa multifacetada personalidade, que a coloca hoje em um rol de novas cantoras/compositoras brasileiras que ainda têm muito a mostrar.
Luê é ligada à música desde a infância. Ela é filha de Julio Soares, um dos integrantes do Arraial da Pavulagem, grupo de música regional do Pará, e, dos nove aos 21 anos, estudou violino clássico na Fundação Carlos Gomes. As duas vivências estão bastante presentes no disco de estreia da cantora, A Fim de Onda, lançado em 2013. Nas dez faixas do álbum, Luê une elementos regionais, como a guitarrada e o carimbó, com sonoridades como o soul e o pop, além de se utilizar da rabeca, instrumento semelhante ao violino que é uma das marcas do seu trabalho.
Cantando sobre amores, encontros, desencontros e solidão, a cantora traz no disco um pouco da poética que envolve as grandes cidades, onde universos diferentes se encontram e se despendem com a mesma facilidade.
Gravado entre o Pará e São Paulo, o disco foi produzido por Betão Aguiar, nome ligado pessoal e profissionalmente à música produzida no Norte e Nordeste do país (ele é filho de Paulinho Boca de Cantor, dos Novos Baianos, e já dividiu palco com Carlinhos Brown e Moraes Moreira). O álbum também conta com uma série de participações especiais, como de seus conterrâneos Felipe Cordeiro e Strobo, além de Pupillo (Nação Zumbi), Edgar Scandurra e de seu pai (nas faixas “Nós dois” e “Faróis”).
O disco seguinte, Ponto de Mira, lançado em 2017, marca uma passagem importante da cantora, agora radicada na capital paulista. Neste trabalho mais recente, o regional, ainda presente, cede espaço para as texturas eletrônicas, que foram ponto de início, inclusive, para a composição das músicas. Nas dez faixas do álbum, Luê explora elementos como sintetizadores e aposta em uma forma de cantar mais suave, o que dá ao disco uma aura mais introspectiva se comparado ao registro anterior. Isso tudo sem abrir mão da sonoridade rabeca, que segue como elemento importante.
Cantando sobre amores, encontros, desencontros e solidão, a cantora traz no disco um pouco da poética que envolve as grandes cidades, onde universos diferentes se encontram e se despendem com a mesma facilidade. Não à toa, Luê caracteriza o disco como o resultado de uma autodescoberta. “Entrei em contato com faces minhas que só longe e sozinha pude conhecer, nessa selva de pedra. As fichas estão caindo e me sinto bem comigo mesma. Foi a minha revolução estar em São Paulo. Hoje penso que tudo acontece no seu tempo e tem uma razão, e tento ver isso com leveza”, contou em entrevista.
Produzido por Zé Nigro, o disco conta com participações de nomes da cena paulista, como Curumin e Saulo Duarte. Parcerias que só somam ao trabalho da cantora, que vem em uma crescente e que tem demonstrado o quanto está absorvendo positivamente as experiências que as cenas nas quais está inserida lhe proporcionam. O resultado é um trabalho que não é estanque, mas que está aberto às descobertas, tal qual sua criadora.
NO RADAR | Luê
Onde: Belém, PA; São Paulo, SP;
Quando: 2013.
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