A música soul e o blues são estilos que remetem a um saudosismo. Boa parte da black music, na verdade, remete a uma nostalgia dos anos 50, 60 e 70, do jazz ao r&b. Mesmo quando contemporâneas, bebem de uma fonte inesgotável de referências de décadas passadas, que correm nas veias de norte-americanos que cresceram com a música, parte de uma cultura que está em todos os cantos, da subversão ao coral da igreja.
Mais do que beber dessas fontes presentes na sua formação, Durand Jones é um músico que parece estar fora do seu tempo. Uma das novas sensações da Colemine Records, pequena gravadora de Ohio especializada em funk e soul, o rapaz de Louisiana parece saído diretamente de uma estante com discos de vinil de Otis Redding, Solomon Burke e Charles Bradley. O autointitulado álbum de Durand Jones & The Indications é quase uma aberração temporal, gravado ao vivo no estúdio, todos os instrumentos de uma vez só ao lado da voz de Jones, em sessões de horas e horas de música da banda comandada pela dupla Aaron Frazer e Blake Rhein.
Mais do que beber dessas fontes presentes na sua formação, Durand Jones é um músico que parece estar fora do seu tempo.
A música do grupo é uma viagem a um tempo em que o soul nascia, era gravado e apresentado assim, com toda a energia de vocais fortes, saxofone e trompetes. Cria uma diferença, por exemplo, em relação a outro jovem artista que chamou a atenção no ano passado com um estilo parecido: Leon Bridges. Embora de uma nova safra de cantores, Durand Jones soa muito como a velha guarda, especialmente nas baladas que dão um charme enorme ao primeiro registro de estúdio da banda. “Can’t Keep My Cool”, “Giving Up” e “Is it Any Wonder” nem parecem canções de um estreante, têm belas melodias e um poder vocal de Jones que vai do grave ao agudo com a segurança de quem está tocando para dez pessoas em um café.
As letras de Jones são típicas da música soul, com histórias de amor e uma pegada social e política. Nesta linha, “Make a Change”, faixa que abre o disco, vai muito no que prega o último disco de Charles Bradley – referência muito presente nas canções aqui – sobre mudanças para o mundo e sociedade. Traz na bagagem, embora não explícito, todo um contexto racial muito delicado nos Estados Unidos atualmente que, historicamente, tem na música uma espécie de escapismo e momento cultural próprio.
Com pouco mais de meia hora de muita música instrumental e belos vocais, o trabalho inicial de Durand Jones & The Indications é soul da melhor qualidade, com cara saudosista e ar renovado em pleno 2016. É também um bom exemplo de música nem tão original assim, mas que cumpre o seu papel de homenagem saudosista aos clássicos com muito sucesso.