Quem é que precisa de uma fórmula precisa? Jonnata Doll e os Garotos Solventes certamente não. O punk do grupo é irreverente, é libertino e sua única bandeira é o “freakismo”. O que realmente lhes interessa é a política a favor da diferença, a que dá voz aos excluídos.
A banda de Fortaleza, formada em 2010, tem uma trajetória já consolidada no cenário punk brasileiro. Mas vem pra dissolver o que é enrijecido, são agentes solventes. São “pó de estrela olhando para o céu esperando ser reclamado pelo universo”, adverte Jonnata Doll.
Dissolução que vai tomar conta de Curitiba no dia 11 de maio, ao lado da banda Escambau no Basement Cultural. A parceria com a banda curitibana surgiu através de uma turnê no sul do Brasil, como conta Jonnata: “Em Curitiba, nos hospedamos na casa do Giovanni, depois passamos o dia com ele e a Paraguaya ouvindo vinis, fumando e mostrando músicas, aí convidei eles para tocarem no Festival Volume Morto (SP) e agora estamos juntos nessa”.
Jonnata é o poeta por trás das composições da maioria das músicas dos Solventes e ecoa literatura beat em suas músicas. Mas ninguém poderia imaginar que Doll foi criado numa família evangélica. No filme Aquele Cara, de Dellani Lima, ele conta os dilemas vividos diante disso e como encontrou força na música para se expressar e poder ser quem queria.
Na infância, conheceu o som de Michael Jackson em uma locadora de videogames, onde aprendeu a dançar e hoje apresenta uma elétrica e selvagem perfomance no palco, que chega a ser comparada com a de Iggy Pop. Foi nessa época também que conheceu o punk que mudaria sua vida – o clássico Ramones.
Aos 16 anos, então, se jogou com tudo no punk e formou a efervescente Kohbaia, que se diluiria nos opiáceos e na vida junkie fortalezense no final da primeira década dos anos 2000. Na casa de Jonnata, na rua de trás – famoso ponto de venda de drogas da capital cearense -, tudo se dissipava: “teve um momento em que tudo estava indo para o ralo e as drogas, que deveriam ser experiências para enriquecer a arte, estavam tornando a arte uma coisa secundária. Então eu resolvi dar um basta, comecei a me tratar e deixar de trabalhar com junkies nível alfa, aí procurei montar uma nova banda”, conta Doll.
Na casa de Jonnata, na rua de trás – famoso ponto de venda de drogas da capital cearense -, tudo se dissipava: ‘teve um momento em que tudo estava indo para o ralo e as drogas, que deveriam ser experiências para enriquecer a arte, estavam tornando a arte uma coisa secundária’, conta Doll.
Daí em diante, quem tomou os palcos das composições de Doll foram os Solventes – Saulo Raphael (baixista), Edson Van Gohg (guitarra), Léo Breedlove (guitarra), Felipe Maia (bateria). Saulo fez parte da Kohbaia e dos dois discos dos Solventes, mas deixou a banda e Joaquim Loiro Sujo então tomou a posição de baixista.
Dois discos eletrizantes, por sinal, influenciados pelo rock de garagem que passa pelo punk, art rock e pós-punk. O primeiro foi lançado em 2014, com nome homônimo do quinteto, na 19ª edição do RecBeat – um dos mais importantes festivais de música pop e experimental da América-Latina -, e citado pela Rolling Stone como um dos destaques do rock nacional naquele ano.
O segundo, lançado em 2016, leva o nome de Crocodilo, e marca uma nova fase da banda com adoção do violão e a aposta em baladas, como nas faixas “Quem é que precisa”, “Já entendi” e “Drama e terror” e conta ainda com grandes participações: Dado Villa-Lobos (em “Swing de fogo” e “Quem é que precisa?”) e Fernando Catatau, do Cidadão Instigado (“Cigano solvente”).
Mas Jonnata e os Garotos Solventes não param por aí. Conforme o vocalista, neste ano vão gravar mais um álbum. Este que vai ser um retrato da vida e das experiências da banda na capital paulista, onde moram desde 2013. E quanto ao show em Curitiba, prometem apresentar um som diferente, “mais eletrônico e barulhento”.
NO RADAR | Jonnata Doll e os Garotos Solventes
Onde: Fortaleza, Ceará;
Quando: 2010;
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