“This beat is my recital / I think it’s very vital / To rock a rhyme / That’s right on time / It’s tricky tricky yo here we go”. Assim, com rimas ágeis, irreverência nas letras, beats animados e vocais entrosados, o Run-DMC entrou para a história da música em 1986, com o lançamento de Raising Hell.
O mais bem-sucedido álbum do grupo se tornou, também, um dos grandes marcos da história do hip-hop, movimento cultural que tem no rap sua linguagem musical. O trabalho dissolveu fronteiras e, pela primeira vez, fez do gênero um grande fenômeno comercial e de público, tal como o conhecemos hoje.
Apostando num recorrente flerte com levadas de rock, o trio nova-iorquino do bairro do Queens contou com a produção do excêntrico Rick Rubin, um grande fã dos dois ritmos, e cravou seu nome entre os grandes da música norte-americana.
O álbum que conta com a participação do Aerosmith no mega-hit “Walk This Way” desfila alguns dos principais sucessos do conjunto e alcançou marcas impensáveis para o cenário do rap nos Estados Unidos até então.
Com uma vendagem que chegou perto das 3 milhões de cópias, o álbum emplacou pela primeira vez canções de hip-hop nas primeiras posições das paradas da Billboard e despertou de vez as gravadoras para o rentável e ainda pouco explorado mercado do gênero.
Ainda bebendo na fonte dos primórdios do rap em que o funk e groove são bastante evidentes, o álbum deu início a uma nova era no mercado fonográfico e abriu as portas para os anos de ouro do ritmo. A partir daí, grupos como o Public Enemy e o Beastie Boys, ainda nos anos 80, passaram a surfar na onda de sucesso do rap na indústria musical.
Ainda bebendo na fonte dos primórdios do rap em que o funk e groove são bastante evidentes, o álbum deu início a uma nova era no mercado fonográfico e abriu as portas para os anos de ouro do ritmo.
As músicas do trabalho, basicamente, se relacionam com a temática que trata do próprio ambiente do hip-hop e suas nuances. O contexto das batalhas entre DJs e MCs, a busca pela “rima certa” e a “batida perfeita”, referências bastante comuns nas letras das primeiras gravações de rap, dão o tom do disco de pouco mais de 40 minutos.
A presença de todo esse universo, surgido nas periferias de Nova York e que com o tempo se popularizou mundo afora, dentro de um disco como Raising Hell, contribui para a importância histórica do álbum e do Run-DMC. Pela primeira vez tais características alcançaram grande êxito e deixaram o hip-hop rentável do ponto de vista comercial.
Por todos os lados, o trio implode um rap provocativo e que constrói uma identidade para o grupo, que rompe com a lógica de seus trabalhos anteriores, Run-DMC, de 1984, e King of Rock, do ano seguinte, igualmente bons, mas menos vigorosos e com músicas de ritmo mais cadenciado.
Desde a faixa de abertura “Peter Piper”, até a estrondosa e engraçadíssima “It’s Tricky”, a aposta do Run-DMC é certeira: vocais empolgantes e agressivos de Joey Simmons e Darly “DMC” McDaniels, e beats potentes de Jam Master Jay, DJ do grupo conhecido por sua habilidade em samplear riffs de guitarra.
“My Adidas”, outro grande hit presente no álbum, catapultou a associação entre o rap e o culto às roupas de marca e a uma vida de “ostentação”. A faixa foi lançada como single em maio de 1986 e, devido a seu sucesso, rendeu um milionário contrato de publicidade entre o trio e a fornecedora de material esportivo. Mas, dentre as canções do álbum, nenhuma chegou perto do sucesso de “Walk This Way”, presente originalmente no disco Toys in the Attic do Aerosmith.
Partindo da ideia de mesclar o hard rock com o rap, o produtor Rick Rubin convocou os amigos da banda de Boston ao estúdios do Run-DMC e gravou um dos maiores sucessos da década de 1980. Intercalando vocais com o próprio Steven Tyler, o trio faz maravilhas ao misturar os potentes acordes de guitarra de Joe Perry e os beats de Grand Master Jay.
A icônica e arrebatadora “Walk This Way”
Para além disso, o álbum, em todas as suas doze faixas, mantém a pegada irreverente, virtuosa e polêmica. Enquanto em “Hit It Run” o Run-DMC inovava ao colocar beatbox no meio da canção, na homônima “Raising Hell” temos a faixa mais “rock’n’roll” do trabalho.
Exaltando o estilo “bad boy” e enaltecendo sua origem no bairro do Queens, aqui o Run-DMC usa riffs de guitarra para acompanhar a canção após cada verso cantado. “You Be Illing” apresenta um som mais swingado e inspirado no soul e no funk norte-americanos, com direito a uma referência na letra ao então astro da NBA, Julius Erving. Impossível não citar também a controversa “Dumb Girl”, que apresenta um caráter visivelmente misógino, mas que, nos hoje longínquos anos 80, não causava tanto desconforto.
Vale destacar, ainda, a presença de alguns samples nas músicas do álbum, que vão desde a balada rock “My Sharona” da banda The Knack, em “It’s Tricky”, até o rap “El Shabazz” de LL Cool J em “Is it Live”. Tal recurso, bem comum nas músicas do gênero até os dias de hoje, é bastante recorrente no álbum, que com frequência aparece em listas especializadas como um dos principais discos da história do rap. Mais de trinta anos após seu lançamento, Raising Hell continua essencial e influenciando gerações de rappers pelo mundo.
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