Em um ponto cercado por velas e por fãs, Brad Paisley empunhava um microfone e olhava para uma câmera a meia altura. Foram poucas palavras com uma pequena música tocando ao fundo e muitas vozes gritando sem parar.
Ele fez o anúncio de forma breve, totalmente empolgado, e apontou na direção do palco principal do CMA Awards. A luz se apagou e foi tomada por notas concisas de um guitarrista um tanto grande, com cara de poucos amigos e uma barba gigantesca. Quando ele terminou o riff, acompanhado da banda, se aproximou do microfone e entoou o primeiro verso. “Tennessee Whiskey”, canção escrita por Dean Dillon e Linda Hargrove, imortalizada nas vozes de David Allan Coe e George Jones.
Tradicionalmente uma balada country apaixonada, a “Tennessee Whiskey” daquele homem tinha um quê de blues e embriaguez, acompanhada de uma surpreendente participação do astro pop Justin Timberlake. Após a apresentação e a chuva de aplausos, a opinião na internet era quase unânime: seria difícil para os artistas que viriam a seguir superar aquele momento. E realmente foi, em todos os aspectos possíveis; além da apresentação magnífica, aquele homem saiu do evento com os troféus de melhor vocal masculino, artista revelação e álbum do ano, um feito difícil de outro artista bater naquela noite.

Seu nome é Chris Stapleton e, junto com sua noite inesquecível, há também a história de um compositor de talento (veja aqui). Stapleton, antes de faturar os três troféus e encantar a plateia do CMA, já havia escrito faixas gravadas por grandes nomes da música, como Darius Rucker, Brad Paisley, Blake Shelton, Kenny Chesney e até Adele e Peter Frampton, além de formar uma banda de Southern Rock intitulada The Jompson Borthers. Com essa biografia, fica fácil entender porque seu trabalho atual, Traveller, além de premiado tem feito sucesso com crítica.
Stapleton, antes de faturar os três troféus e encantar a plateia do CMA, já havia escrito faixas gravadas por grandes nomes da música, como Darius Rucker, Brad Paisley, Blake Shelton, Kenny Chesney e até Adele e Peter Frampton
Chris Stapleton faz parte de uma coleção de artistas cujo trabalho, mesmo pertencente à rotulação do country music, tem um estilo diferente do habitual. Suas composições, arranjos e temáticas contam histórias de um ser solitário e beberrão, mas apaixonado enquanto sua figura, extremamente caricata, mostra um artista mais voltado à raiz do que ao gênero dançante das paradas atuais.
Traveller é uma dose pura de uísque de mais de uma hora. Abrindo com a faixa homônima, mostra um arranjo lindo e um vocal poderoso contrastantes com a suavidade de um back vocal feminino nos refrões. A estrutura do ritual de bebida do álbum segue em faixas como o cover “Tennesse Whiskey” com uma base de blues, a tradicional “Nobody to Blame” com arranjos próximos do country outlaw, a romântica “When the Stars Come Out” e a poderosa “Sometimes I Cry”, que compõe o fundo perfeito para o momento em que o copo vazio é batido no balcão do bar. O destaque, por fim, fica com a faixa “Parachute”, que equipara o estilo peculiar de Chris com o de White Buffalo, outro poderoso artista dessa linhagem de grandes cantores, com arranjos simples, vocais poderosos e músicas incríveis, e que emprestou sua voz a faixas marcantes, como o cover de “Bohemian Rhapsody” e “Come Join the Murder”, temas da última temporada de Sons of Anarchy.
Conhecer o talento de Chris Stapleton foi a surpresa musical mais agradável que 2015 me trouxe até então; e saber que essa linha da música country segue viva, com nomes talentosíssimos é mais agradável ainda.
Tendo Once Upon a Time in the West, de White Buffalo, como o último trabalho de peso dessa geração recente, Traveller veio para somar a uma categoria que merece todas as atenções, especialmente por se tratar de um gênero que serviu como base para o terreno que o rock ‘n’ roll viria a caminhar.

Se depender dos compositores de faixas como “The Pilot” e “Parachute”, a música boa não só respira aliviada, como também nos afasta um pouco daquela chatice e marasmo, comuns do pop country atual e da música pop em si. Suas composições nos levam ao céu e a um universo de viajantes solitários com nada mais a perder – mas com muito a ganhar, como mais alguns troféus em grandes festivais pop, por serem sucesso de crítica.