Em entrevista à WRIF, rádio de Detroit especializada em rock, o guitarrista do Pearl Jam, Stone Gossard, contou aos ouvintes que a banda de Seattle já está em pré-produção do sucessor de Gigaton, último álbum do grupo, lançado em 2020.
Ainda de acordo com a fala do músico, a perspectiva é que o novo registro saia em 2024, ainda que o Pearl Jam trabalhe em modo acelerado para que as canções cheguem antes ao mercado. “O plano é fazer mais gravações, tentar terminar o álbum em breve”, contou Gossard ao radialista Mark “Meltdown” Milligan.
“Há canções que estamos próximos de terminar, e há muitas que ainda não estão prontas. Temos demos [suficientes para] dias e dias. Todo mundo escreve na banda, então é descobrir o que é diferente e emocionante”, finalizou. A longa entrevista está disponível no canal da emissora no YouTube.
O papo do músico da banda, única remanescente do grunge com mesma base e vocalista vivo, levou a refletirmos a discografia do Pearl Jam. Do petardo de Ten às canções com forte teor político (e verve à lá Neil Young), ranqueamos todos os 11 discos de estúdios do quinteto. Confira.
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Lightning Bolt (2013)
Lightning Bolt foi a tentativa do Pearl Jam fazer o que se convencionou como “rock clássico’. Como fã do quinteto, é duro afirmar que é um disco ruim, mas não há possibilidade de fugir à dureza da realidade: o álbum é o mais fraco da trajetória de mais de três décadas.
Pode até se afirmar que não há composições que sejam ruins, mas o conjunto da obra não é particularmente interessante. A ampla variedade de estilos, expressa no antagonismo dos dois singles lançados (a urgente “Mind Your Manners” e a balada “Sirens”), dá o tom de como as coisas correram no registro.
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Backspacer (2009)
Backspacer é lembrado como “o disco de ‘Just Breathe’”, ainda que a maioria dos apaixonados pela canção nem mesmo saibam de que álbum ela faz parte. O LP foi a estreia do quinteto na Universal para distribuição no restante do mundo, ainda que tenha se mantido independente nos Estados Unidos.
No seu país, Backspacer foi massacrado, fazendo o Pearl Jam ser chamado de “ex-maior banda do planeta” pela Pitchfork. Particularmente, o álbum tem bons momentos, como “Amongst the Waves” e “The Fixer”, além das baladas que o consagraram entre um público maior.
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Pearl Jam (2006)
Chamado entre os fãs de “o disco do abacate”, Pearl Jam foi lançado na reta final da gestão Bush, com o agravamento da crise econômica que culminaria na crise global de 2007 e 2008.
A banda, assumidamente Democrata desde que o mundo é mundo, não perdoou o ex-presidente, retornou com sua verve crítica, não perdoando a “guerra ao terror” travada por seu presidente.
Certamente foi o disco mais endereçado, ao menos até Gigaton. Bastante melancolia e a uma nação, o “papai do capitalismo”, que ainda veria dias bem ruins.
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Gigaton (2020)
Gigaton, o mais recente álbum da banda, demonstrou maturidade e resiliência, mantendo o poderoso som característico da banda. Com destaque para letras reflexivas e a emotiva voz de Eddie Vedder, a obra aborda questões ambientais e sociais com sensibilidade.
Embora algumas faixas ressoem menos, o álbum destaca-se pela ousadia em experimentar novos arranjos e estilos. Apesar de não superar clássicos da banda, Gigaton é uma adição sólida à discografia do Pearl Jam, mostrando que a banda ainda é relevante após décadas de carreira.
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Riot Act (2002)
Riot Act é um álbum sólido, embora subestimado, na discografia da banda, que mostrou o grupo em um momento de reflexão. O registro tem composições maduras e introspectivas, explorando temas sociais e pessoais. Destacam-se faixas como “I Am Mine” e “Thumbing My Way”.
Há quem considere que a ausência de hits radiofônicos seja um aspecto negativo. Mesmo assim, Riot Act exemplifica a evolução artística do Pearl Jam, com um som mais maduro e menos comercial, cativando os fãs fiéis, mas sem ganhar a mesma atenção de álbuns anteriores.
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Binaural (2000)
Binaural é uma mistura intrigante de experimentação e familiaridade. Chama a atenção a abordagem inovadora da produção, com técnicas de gravação binaurais, e a continuação da abordagem lírica honesta da banda. Destacaram-se faixas como “Light Years” e “Nothing as It Seems”.
À época, a experimentação afastou alguns fãs que esperavam o som clássico da banda. Embora Binaural não alcance o mesmo status dos álbuns iniciais do Pearl Jam, ele marca uma fase de exploração sonora em sua discografia, agradando os admiradores de sua busca contínua por novos horizontes musicais.
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No Code (1996)
Lançado em 1996, No Code é uma obra corajosa e eclética. No disco havia muita diversidade musical, indo do grunge ao folk e ao experimentalismo. Faixas como “Hail, Hail” e “Off He Goes” exibem a habilidade lírica de Eddie Vedder.
A abordagem pouco convencional fez o álbum ser menos acessível para alguns ouvintes. Apesar disso, No Code marcou uma fase de autodescoberta e afirmação da identidade da banda, contribuindo para sua evolução musical. Embora não seja tão aclamado quanto álbuns anteriores, ele é um ponto de virada na discografia do Pearl Jam, enriquecendo a diversidade e a profundidade de seu catálogo.
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Yield (1998)
Na discografia do Pearl Jam, Yield é uma joia musical que equilibra energia e introspecção. A banda trouxe uma sonoridade revitalizada e a pegada grunge, perceptíveis em faixas como “Given to Fly” e “Do the Evolution”. A maturidade lírica de Eddie Vedder também se destaca, abordando temas pessoais e sociais.
Curiosamente, o grupo se afastou um pouco da experimentação e da ousadia do disco anterior. Contextualmente, Yield sucede a fase conhecida como mais “obscura” da banda e representa um retorno à forma, combinando a essência do Pearl Jam com uma abordagem mais acessível. Unindo faixas marcantes e melodias cativantes, consolidou-se como um álbum importante na discografia da banda, atraindo tanto fãs antigos quanto novos ouvintes.
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Vitalogy (1994)
Uma das melhores formas de se referir a Vitalogy é como uma obra corajosa, revelando a complexidade emocional da banda. O Pearl Jam imprimiu uma crueza nas composições, como em “Better Man” e “Nothingman”, além de experimentações sonoras em faixas como “Bugs”. A profundidade lírica de Eddie Vedder é um destaque, porém, com a presença de algumas faixas menos polidas.
Contextualmente, Vitalogy representou um momento de transição, mostrando a evolução do Pearl Jam e sua busca por identidade após o sucesso estrondoso dos álbuns anteriores. Com sua abordagem mais introspectiva e desafiadora, o álbum firma-se como um registro ousado e importante, marcando uma virada na discografia da banda.
Não é equivocado cruzar o registro com o imbróglio do Pearl Jam com a Ticketmaster. O grupo questionava as taxas de serviço impostas pela empresa, bem como seu monopólio na comercialização de ingressos no território norte-americano. O processo só viria a acabar muitos anos mais tarde, mas ajudou a solidificar a marca de artistas que “lutava em todas as frentes”, como afirmava o agente da banda.
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Ten (1991)
Ten é um clássico do grunge e um marco na carreira do Pearl Jam. A força emotiva e a voz única de Eddie Vedder, exemplificadas em faixas como “Alive” e “Black”, ajudaram a catapultar a banda, o gênero e todo o movimento rock dos anos 1990. A energia crua e a fusão do rock alternativo com elementos do hard rock eram um chamariz.
Ten lançou o grupo para o estrelato e influenciou toda uma geração de músicos. Embora tenha sido um sucesso comercial e crítico, alguns consideram-no menos refinado em comparação com os trabalhos posteriores do Pearl Jam. Ainda assim, Ten é uma obra icônica, responsável por solidificar a posição da banda como um dos maiores expoentes do grunge nos anos 90.
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Vs. (1993)
Vs. é a obra mais poderosa e intensa da discografia do grupo de Seattle. Há uma evidente evolução lírica, explorando questões sociais e pessoais, notavelmente em faixas como “Daughter” e “Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town”. A energia bruta e as harmonias cativantes também se destacaram, mostrando artistas mais cientes do seu poder.
Vs. representa a consolidação do sucesso do Pearl Jam após a estreia fenomenal. Embora alguns fãs esperassem um Ten parte 2, Vs. provou a versatilidade da banda e marcou um passo importante em sua discografia. Sua coragem em enfrentar temas complexos solidificou sua relevância no cenário musical dos anos 90 e além.
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