Músico e poeta, Tibério Azul foi a voz que encantou Chico Buarque a ponto de o carioca participar da gravação de um DVD do projeto Seu Chico, iniciativa que o homenageia e da qual Tibério é vocalista. Seu segundo trabalho, Líquido ou a Vida Pede Mais Abraço que Razão, sucede Bandarra, de 2011, e mantém o cantor pernambucano na trilha de fazer músicas onde a poesia é marca sempre presente.
Sinal de que a paixão do músico pernambucano transcende os palcos foi o lançamento simultâneo de um livro de poesias, publicado pela Confraria do Vento. Líquido ou O Homem que Nasceu Amanhã é uma obra complementar ao disco, mas funciona separadamente deste.
Com 37 anos de idade, Tibério faz questão de estabelecer essa relação intrínseca entre as duas artes. As referências poéticas em seu trabalho dão forma à sua música, abraçando direta ou indiretamente nomes como Manoel de Barros (homenageado no primeiro álbum), Cora Coralina e Fernando Pessoa. Esse fascínio pela literatura enriquece sua obra enquanto esvazia a efemeridade da música contemporânea.
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De caráter polido, suas rimas versam sobre os elementos da natureza, se não diretamente, ao menos a partir do norte utilizado para suas composições.
De caráter polido, suas rimas versam sobre os elementos da natureza, se não diretamente, ao menos a partir do norte utilizado para suas composições. Enquanto a terra foi elemento chave em Bandarra, a água é a essência de Líquido, onde as referências à água são metáforas para a exploração do músico à profundidade, leveza e mutabilidade dos sentimentos.
Admirador do budismo, onde aprendeu a combater a necessidade de controlar as situações, Tibério levou os ensinamentos filosóficos para sua mais nova obra. Do estado da matéria o cantor absorveu a habilidade de se adequar a qualquer meio sem alterar consideravelmente seu volume, uma metáfora para como a filha Branca e a pausa para viver a etapa inicial de vida dela (hoje com 3 anos) e a mudança para o Rio de Janeiro ditam as possibilidades de significação de suas novas composições.
Líquido é o segundo álbum dentro de uma ideia de Tibério Azul: lançar quatro discos, todos inspirados em elementos. Esta quadrilogia viria ao encontro da própria essência humana, ou à forma como o músico enxerga nossa humanidade.
O novo trabalho é muito mais festivo e aberto que seu antecessor. Os arranjos de metais e as letras afetivas marcam o passo desse registro, a busca de uma solução para uma dor, um conflito, como o cantor contou em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo. “O primeiro disco era sobre estar diante de um problema. Neste, estamos, como a água, abraçando esse problema, lidando com ele. Esse é o conceito líquido que conduz o trabalho”, explicou.
Com produção de Yuri Queiroga, que além de integrante da banda de Azul esteve à frente da produção do álbum Qual o assunto que mais lhe interessa?, de Elba Ramalho, vencedor do Grammy Latino, Líquido conta com participações de Zé Manoel, Vitor Araújo e Clarice Falcão, com quem divide a faixa “Chover”, segundo single do registro.
Um dos melhores álbuns nacionais deste 2017, Líquido é um recorte sobre a contemporaneidade, uma oposição à racionalidade das coisas, um mergulho no que somos e do que somos feitos, seja de maneira consciente ou inconsciente. Para tempos tão difíceis, um grande disco.
NO RADAR | Tibério Azul
Onde: Recife, Pernambuco.
Quando: 2011.
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