Durante quase um ano, a diretora de teatro Camila Bauer e a atriz Liane Venturella realizaram entrevistas com dezenas de mulheres que trabalham como profissionais do sexo no Rio Grande do Sul. A partir dessa pesquisa, surgiu Meretrizes, do Coletivo Projeto Gompa. Apresentado no último fim de semana no Teatro Paiol, dentro da mostra oficial do Festival de Curitiba, o espetáculo utiliza a linguagem do teatro documental para retratar a realidade dessas mulheres.
Fragmentos dos relatos coletados durante as entrevistas são projetados no palco, em vídeo, desempenhando um papel fundamental na construção da dramaturgia. A peça aborda diversas etapas da atividade em Porto Alegre, desde as mulheres que trabalhavam no porto, nas calçadas, até os cafetões da Praça da Alfândega e a exposição de corpos e a venda serviços sexuais na internet.
Apesar de impactante e muito relevante, em alguns momentos a costura dramatúrgica da peça parece ser frágil e menos coesa, sobretudo no diálogo entre o que assistimos ao vivo e os depoimentos exibidos em vídeo. Há um certo descompasso. Liane Venturella, que interpreta várias das personagens entrevistadas, demonstra habilidade na construção fragmentada das personagens, o que minimiza essas fragilidades.
Apesar de impactante e muito relevante, em alguns momentos a costura dramatúrgica da peça parece ser frágil e menos coesa, sobretudo no diálogo entre o que assistimos ao vivo e os depoimentos exibidos em vídeo.
A pesquisa em história oral e o dramaturgismo foram conduzidos por Juliana Wolkmer, enquanto a dramaturgia foi desenvolvida por Camila e Liane a partir dos relatos ouvidos. A direção é de Camila.
No palco, Liane é acompanhada pela pianista Catarina Domenici, responsável pela sonorização das histórias ao vivo. Além disso, duas profissionais do sexo com diferentes visões da profissão estão em cena: a jovem Paula Assunção, exemplo da prostituição na era digital, e Soila Mar, que atua há mais de 40 anos nas ruas da cidade e chegou a ficar em cárcere privado durante um ano no interior do Rio Grande do Sul, pelas mãos de seu cafetão, que a forçava a engravidar dele.
Essas mulheres representam extremos de uma realidade muito mais complexa do que se imagina. O espetáculo se encerra com a interação da plateia com as duas prostitutas, permitindo perguntas que evidenciam a imensa curiosidade do público e, ao mesmo tempo, seu desconhecimento profundo sobre a realidade dessas mulheres.
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