“Se todas as artes e todos os teatros, e os próprios Mundos, precisam de uma fé para viver, podemos dizer que a religião do real e da experiência não é razão suficiente para existir.”
Antonin Artaud
O atual Secretário Especial de Cultura, Mario Frias, anda sempre aprontando das suas. A última foi o ataque a uma publicação nas redes sociais do Museu da Língua Portuguesa por conta do uso da expressão “todes”. Como cantou o maestro Tom Jobim: é a lama, é a lama.
Nos palcos, a má notícia da semana para os grupos de teatro e profissinais envolvidos com a produção cênica nacional foram as previsões a respeito da reabertura futura dos espaços, com datas estabelecidas em alguns estados e cidades do país.
A crise econômica, segundo especialistas, será o maior dos entraves na volta do público aos teatros. Segundo economistas, as salas de teatro, diferente das salas de cinema, por exemplo, dependem de uma quantidade muito maior de profissionais e colaboradores e, em contrapartida, contam com um número de lugares para espectadores bem inferior.
Na média, as salas de espetáculo possuem 30 por cento a menos de lugares do que as salas dedicadas a exibição de filmes, muitas delas cravadas em enormes shopping centers. Ainda segundo previsões, as adequações às novas normas sanitárias impostas pela pandemia custarão valores significativos, além de limitarem o número de espectadores.
As adequações às novas normas sanitárias impostas pela pandemia custarão valores significativos, além de limitarem o número de espectadores.
Somente essas duas condições citadas a serão acima esponsáveis pelo fechamento de centenas de salas de teatro e pelo fim de atividade de milhares de grupos de teatro, circo e dança em todo o Brasil. Se levarmos em conta apenas as previsões, tomando-as como certeza, poderíamos certamente decretar um dos períodos mais complicados para a produção cultural do país, principalmente para as que se desenvolvem nos palcos, nas ruas ou nas pequenas brechas do dia-a-dia.
No entanto, nem tudo é tão cinza que não possa se encher de cor. O que não calculam as estastíscas, e não enxergam as previsões é que, assim como o sertanejo, o artista brasileiro também é, antes de tudo, um forte, e que, além de acostumado a lidar com a impossibilidade, ele sabe lutar por seus direitos, exigir respeito e tranformar o pesadelo em sonho através da coragem que só invade o peito daqueles que se recusam a morrer por antecipação e a viver de joelhos.
É preciso desafiar a razão, enfrentar a lógica, duvidar da certeza. A realidade não pode servir de arreio. As previsões, do alto de suas certezas, fecha os olhos, por exemplo, à solidariedade que existe entre grupos, profissionais e público. Não calculam, as estatisticas, o peso de cada gota de lágrima derramada em nome e em defesa de um espetáculo. Não sabem, por fim, os pobres homens que vivem acordados, que o sonho é combustível imprescindível pra se manter acordado diante da vida.