Sempre que nos encontramos diante de um desafio, seja ele novo ou um velho conhecido de nossas noites insones, voltamos os olhos e o peito inseguro pra dentro de nós. Buscamos, ainda que inconscientemente, uma pessoa que carrega nos ombros o açoite de nossas lágrimas passadas, uma imagem que guardamos no fundo da retina ou uma frase que nos consolou diante do caos. A meu ver, as lembranças carregam em si toda a segurança do mundo.
No meu caso, as lembranças levam à Estação Cultura, às praças abandonadas de um centro sem sorrisos, ao holocausto diurno da felicidade juvenil. Campinas é a terra dos sonhos e dos desencontros, e foi justamente aqui que deixei minha semente fértil.
E eu, como uma criança diante do abismo, só enxergava o breu diante de mim. Poderia dar início a essa série, que trata sobre grupos de teatro, em qualquer canto do globo. Há em Seattle algo digno de ser colocado no papel em relação às artes cênicas? Creio que sim, no entanto um homem diante da insegurança só pode confiar nos seus, por isso tomei o rumo da cidade das andorinhas em busca de um colírio para os olhos e um acalanto para a alma.
Raros & Loucos, é esse o nome da trupe que fui conhecer. Senhores, apresentem as armas e fiquem insolúveis diante do nada! Os garotos, tenho absoluta liberdade em chamá-los assim, são guerreiros no front teatral. E é por isso que viraram pauta. Os Raros & Loucos são, como eu, um bando de garotos que acreditam em um futuro que nunca chega. Um Brasil que só é possível aos nossos olhos descrentes.
“Os Raros & Loucos são, como eu, um bando de garotos que acreditam em um futuro que nunca chega.”
Cheguei e o espaço foi tomado pela fumaça espessa da defumação, corpos e impressões se encontram no ir e vir de cada estação onde paramos a consciência. Atenção! Uma leitura em tom de happening a respeito da situação, abjeta, em que se encontra o mago da contracultura brasileira: Luiz Carlos Maciel.
A tarde segue entre trocas de figurino e inconstâncias de um destino que nos trouxe até aqui. Montagem, passagem, música. A trupe transforma os trilhos do trem em possibilidades de delírio. Transitamos em transe pelos descaminhos campineiros.
É fato que a juventude campineira, tal qual eu na época em que me reconhecia entre eles, padece de um imediatismo inconsequente. No entanto sinto-me na obrigação de corrigir, por aqui, o incomparável Nelson Rodrigues: mais que envelhecer, desejo aos jovens a coragem que reconheço em alguns senhores que os ensinaram a lutar.