O primeiro capítulo de Jesus, que foi ao ar no dia 24 de julho, foi bastante aguardado e especulado. Por ser a primeira novela brasileira a retratar a vida do Messias, a expectativa, desde sua divulgação, foi muito grande. Contribuiu também para isso o fato de a novela Os Dez Mandamentos (2015/2016) – primeira telenovela bíblica produzida pela Record – ter tido grande repercussão e altos índices de audiência.
Sua estreia, no entanto, não foi de grande expressão. Com a exceção de alguns flashes que mostraram a crucificação de Jesus, o capítulo foi morno. O folhetim chegou a voltar na história de Adão e Eva e ao fundo um narrador dava uma lição de moral sobre o pecado. Algo completamente desnecessário, tanto a história quanto o sermão.
Por mais que o proprietário da emissora seja Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, e que seus últimos folhetins sejam baseados na Bíblia, seria interessante e benéfico se houvesse uma autonomia maior na produção desses conteúdos bíblicos, com menos sermão de um terceiro e mais história.
Seria interessante e benéfico se houvesse uma autonomia maior na produção desses conteúdos bíblicos, com menos sermão de um terceiro e mais história.
Foi necessário decorrer cinco capítulos para que, só no sexto, ocorresse o nascimento de Jesus, que foi ao ar no dia 31 de julho. Por aí é possível perceber como a novela tem se arrastado. Faltou, até o momento, uma adaptação das histórias do Novo Testamento para o dinamismo da televisão. A narrativa tem sido cansativa. Dois capítulos aliados a flashbacks seriam o suficiente para retratar o contexto no qual nasceu Jesus.
Quanto aos aspectos positivos da trama, destacamos, em primeiro lugar, a própria escolha em retratar a história de Cristo. Foi um grande acerto. Adaptada em filmes, sendo um dos mais famosos A Paixão de Cristo, ela nunca havia sido tema central de uma novela.
Mas, mais do que retratar a vida de Jesus, é necessário encará-lo como uma referência humana, e não apenas religiosa. Limitá-lo é desconsiderar muitos aspectos importantes e, em termos de audiência, é deixar de atrair um outro tipo de público. Segundo matéria da Folha de São Paulo, a ideia é mostrar um retrato humanizado de Jesus, interpretado na fase adulta pelo ator Dudu Azevedo.
Um outro aspecto de destaque é a exposição de uma hashtag no canto inferior da tela em cada capítulo. Isso é bastante positivo já que, além de provocar a interação dos internautas, elenca o tema central daquele capítulo ou o seu número. No dia do nascimento, por exemplo, foi utilizado #NascimentoDeJesus. Quando, porém, não há algum grande acontecimento, as hashtags são construídas com o nome da novela acrescido do número do capítulo.
Vamos torcer para que a novela possa decolar a partir da fase adulta de Jesus. Que o folhetim faça diferente do que exibiu até então e consiga traduzir para a linguagem televisiva e novelística essa complexa e bonita história humana.