Às vésperas de completar 3 meses de exibição, os autores da novela Novo Mundo, da Rede Globo, Thereza Falcão e Alessandro Marson, têm motivos de sobra para comemorar. A trama, que mistura a história da Independência do Brasil com uma boa dose de ficção, conquistou o público, foi bem recebida pela crítica e tem alcançado bons índices de audiência, sendo considerada a segunda novela das seis mais assistida desde 2012 – superada apenas por Êta Mundo Bom, de Walcyr Carrasco.
Com direção artística de Vinícius Coimbra, a telenovela mistura história, ação, aventura e romance, mostrando que não está para brincadeira e que não é à toa que tem batido novos recordes: a produção é caprichada, os figurinos são impecáveis, as cenas são bem dirigidas e, principalmente, possui um elenco dedicado e apaixonante.
A trama começa em 1817, com a vinda da princesa Maria Leopoldina de Áustria (Letícia Colin) para o Brasil. Com ela vieram Anna Millman (Isabelle Drummond), uma inglesa que é professora de português, e o ator luso-brasileiro Joaquim Martinho (Chay Suede), que formam o casal protagonista. No mesmo barco, estava também Thomas (Gabriel Braga Nunes), um vilão manipulador. Durante o tempo em que está no ar, a novela já teve 3 passagens temporais, e atualmente a trama se encontra no início de 1822, poucos meses após Dom Pedro I (Caio Castro) decretar o “Dia do Fico”.
Vamos deixar claro aqui que estamos falando da produção enquanto teledramaturgia, em seu caráter ficcional. Sabemos que a história real não é a que está sendo mostrada, mas se formos fazer uma análise comparativa entre a trama da novela e o que realmente aconteceu na independência do Brasil, teríamos um outro texto (que fica para uma próxima semana).
Sim, a trama peca na fidelidade aos fatos, mas convenhamos, é dramaturgia, e faz parte ter essa licença poética de brincar com a história.
O enredo tem como objetivo mostrar, com bastante licença poética, o que os autores imaginam que seria “os bastidores” daquela época, tanto que, apesar de alguns personagens serem reais (caso de D. Pedro, Leopoldina, Domitila, Bonifácio, Avilez e Chalaça), suas histórias são floreadas e misturadas com as de personagens fictícios.
Nesse momento da história estamos naquele período em que o par principal enfrenta vários obstáculos, com aqueles desencontros que costumam carregar as novelas até o fim. Entretanto, apesar dos atores serem muito queridos e se saírem muito bem juntos, surpreendentemente o interesse não está concentrado nessa dupla. Aconteceu o inesperado: são outros personagens que estão roubando todas as atenções.
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![Letícia Colin dá um show como a princesa Leopoldina](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/06/figurino-leopoldina-211x300.jpg)
Na verdade, pessoalmente, considero que a verdadeira protagonista de Novo Mundo é a princesa Leopoldina, afinal, é a sua história que norteia todos os acontecimentos da trama. Não há dúvidas que a personagem ganhou uma relevância que certamente estava fora do planejamento inicial da produção. Isso porque Letícia Colin está brilhante como a primeira imperatriz do Brasil: ela é querida e engraçada e sua história cativa e emociona, sem contar no sotaque construído pela atriz, que é um dos pontos fortes de Leopoldina.
A princesa é tão querida que alguns boatos sugerem que os autores decidiram não contar o final trágico que Maria Leopoldina da Áustria enfrentou na vida real. Pelos relatos da história do Brasil, a esposa de Dom Pedro I morre de tristeza e desgosto, após ser deixada de lado pelo marido – que tinha muitos casos extraconjugais. Os spoilers sugerem que o último capítulo, previsto para ir ao ar em setembro de 2017, mostrará a coroação de Leopoldina como Imperatriz, logo após a Independência do Brasil.
![Ingrid Guimarães, Vivianne Pasmanter e Guilherme Piva](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/06/elvira-ingrid-guimaraes-licurgo-guilherme-piva-e-germana-vivianne-pasmanter-em-novo-mundo-1494964129383_v2_750x421.jpg)
Outro núcleo que se destaca é o composto por Elvira (Ingrid Guimarães), Germana (Vivianne Pasmanter) e Licurgo (Guilherme Piva). A primeira é uma atriz portuguesa, atrapalhada e refinada, que separa o casal de mocinhos. Os outros dois personagens são um casal “sujinho” e atrapalhado que dirigem uma taberna. O humor do trio é um ingrediente poderoso usado para abordar todo tipo de assunto, fazendo uma grande crítica social da época.
![Vivianne Pasmanter se transforma para viver Germana](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/06/vivianne-300x199.jpg)
Irreconhecível na pele da personagem, cuja caracterização inclui dentadura, lentes de contato e muita maquiagem, Vivianne Pasmanter dá um show de interpretação. A atriz dá vida a uma mulher sem atrativos, com modos grosseiros, de visual um tanto rústico, feia e muito mal-educada. É, com certeza, um dos papeis mais brilhantes de sua carreira.
Guilherme Piva também está irreconhecível. O ator passa por um processo de maquiagem que deixa sua pele, seus dentes e o seu cabelo com aspecto de sujos e usa uma barriga falsa para interpretar o dono da Estalagem dos Portos. Ele dá vida a um sujeito que faz de tudo para se dar bem e tirar vantagem em cima dos outros, sendo capaz de servir pombo como sendo frango a passarinho. O personagem tem o objetivo de tirar sarro, e ser uma espécie de origem, do dito “jeitinho brasileiro”.
Outra dupla de atores que vem chamando a atenção são Jonas Bloch e Sheron Menezzes, que dão vida ao casal Wolfgang e Diara. Mesmo com menos tempo no ar que o elenco principal e longe de figurarem entre os protagonistas, a dupla encanta a cada nova aparição. São dois talentos que somam na produção e contribuem positivamente na luta contra o preconceito.
Semana passada, dia 13, foi ao ar uma das cenas mais bonitas da novela: chateada após ver um amigo ser assassinado, Diara resolveu deixar de lado as roupas comuns às mulheres brancas da época e adotar vestimentas africanas. Os escravos começam a cantar quando a personagem surge exibindo sua beleza negra. Feliz com a recepção, ela começa a dançar, com Wolfgang orgulhoso, aplaudindo-a. Não por acaso, a atriz estava visivelmente emocionada no momento em questão. Veja as cenas aqui: cena 1 e cena 2.
![Sheron Menezzes emociona ao dançar com os escravos](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/06/5937637_x720-1024x576.jpg)
Temos, ainda, o núcleo dos índios, que trazem à tona a pauta da questão da demarcação das terras indígenas, mas, devido à importância desse tema, o assunto merece um texto dedicado a ele, então, também falaremos sobre isso outro dia.
Sim, a trama peca na fidelidade aos fatos, mas convenhamos, é dramaturgia, e faz parte ter essa licença poética de brincar com a história. Os autores deixam claro que, antes de qualquer coisa, é uma produção ficcional. Cabe ao público saber separar e não confundir as coisas. Tem uma boa história, uma excelente produção, debate assuntos importantes e contemporâneos, é engraçada e possui um elenco incrível: motivos para assistir a Novo Mundo temos de sobra.