O marketing da nova edição de No Limite repete sempre a mesma frase: “a nossa paixão por reality shows começou aqui”. Não dá para deixar de elogiar que a Globo destaque o tempo a sua intenção ao trazer à tona um programa que parou de produzir em 2009. No Limite claramente busca reativar uma sensação de nostalgia acerca da cultura televisiva (talvez não seja coincidência que isso ocorra justamente no ano em que se encerrará o Domingão do Faustão, programa que virou um sinônimo desse veículo).
Ocorre, no entanto, que não há apenas nostalgia na temporada 5 de No Limite. Há, na verdade, mais um esforço para tirar frutos de Big Brother Brasil, reality show que foi “ressuscitado” nos últimos anos na sua função primordial de gerar conversação fora da TV e se tornou uma espécie de galinha dos ovos de ouro. Por isso, No Limite 5 foi planejado para ser um spin-off do BBB, montando um “time” de famosos já conhecidos de edições anteriores do programa.
Era pra ser um dream team que foi anunciado exaustivamente pela Globo, incluindo nomes queridos (como Kaysar), pessoas que remetem ao “BBB raiz” (como Angélica Freitas e Marcelo Zulu), outras que adquiriram já uma sobrevida midiática pós-BBB (como Iris Stefanelli) e até uma vencedora do programa (Gleici Damasceno).
A aposta é grande e une, então, a saudade do passado somada à cultura de fandom. Talvez isso tenha gerado uma das fragilidades do primeiro episódio de No Limite 5: não houve qualquer apresentação dos participantes. O programa iniciou como um soco, quase como se começasse no meio da temporada. Não houve apresentação da proposta do programa, nem recapitulação sobre os participantes, e muito menos qualquer explicação do porquê de eles terem sido selecionados para estarem ali. Assistir a No Limite exige um contexto externo aprofundado para conseguir fruir a graça de ver essas pessoas juntas novamente.
Diferente de outros reality shows, esse não é exatamente um programa sobre convivência, mas diz respeito, como indica o próprio nome, a testes de resistência física e mental.
E onde está a graça de No Limite em sua versão original? Diferente de outros reality shows, esse não é exatamente um programa sobre convivência, mas diz respeito, como indica o próprio nome, a testes de resistência física e mental. É um programa menos sobre carisma, e mais sobre estratégia.
A julgar pelos primeiros episódios (serão 11 no total), No Limite 5 vai penar um pouco para encontrar seu nicho de entretenimento. Digo isso porque o programa revela uma certa mistura pouco clara sobre suas intenções: por um lado, temos nomes de pessoas lembradas no elenco simplesmente pelo fator “causação” (como Mahmoud, eliminado do primeiro episódio) e outras que são verdadeiros atletas (como Paula Amorim, Zulu e Lucas Chumbo). Fica difícil saber então para quem torcer: para quem tem condições de passar do “limite”, ou para alguém que provavelmente nos trará umas boas risadas semanais?
É difícil ainda saber, mas a julgar pelo que vimos até aqui, creio que a diversão só poderá ser encontrada por quem se dispuser a fazer um mergulho neste “BBBverso”. Ou seja, a graça deve estar em tentar captar as performances (e os lapsos nelas) de quem novamente topa se colocar em situações de absoluta exposição – ou seja, quem uma vez topou compartilhar sua monotonia cotidiana dentro de uma casa luxuosa e que agora topa se expor em público em momentos de aperto em troca de mais uns meses de fama.
Me parece então que a aposta da Globo em No Limite 5 está em captar, mais uma vez, esses espectadores: os que querem ver o quanto a “Siri” Stefanelli (quem viveu o BBB raiz sabe do que se trata) repaginada estará disposta a passar perrengue no meio de um cenário inóspito, ou o quanto Arcrebiano, recém-saído do BBB 21, conseguirá ressignificar-se dentro do No Limite para além da sua passagem relâmpago (e insípida) dentro do programa.
Diferente da maioria dos realities, No Limite vai ao ar já gravado, por isso não há possibilidade de muitos direcionamentos para além da edição. No formato do programa original Survivor, boa parte da diversão dos fãs está em fazer investigações para descobrir o que teria ocorrido ao longo da temporada, a partir de pistas (como, por exemplo, o estado atual dos participantes, etc.). Por isso, só os próximos episódios poderão dizer se essa continuação do BBB ao longo do ano todo vai pegar, ou é só mais uma onda passageira da pandemia.