A RedeTV! fez história no último sábado, dia 04 de agosto. Sem ter programas de grande expressão nacional e sem ser referência no telejornalismo brasileiro, a emissora fez aquilo que os seus concorrentes nunca fizeram: escalou dois âncoras negros para a bancada do seu principal telejornal, o RedeTV! News.
Embora os apresentadores Luciana Camargo e Rodrigo Cabral tenham apenas substituído os âncoras oficias, Boris Casoy e Amanda Klein, o acontecimento foi suficiente para repercutir e fazer história quanto à representatividade negra na televisão.
Se na TV, de modo geral, esse grupo não tem a devida representação, no campo do telejornalismo a situação não é diferente. Basta perceber que para enumerar jornalistas negros reconhecidos nacionalmente não é exigido muito tempo, nem um grande pedaço de papel.
Glória Maria, sem dúvidas, é a maior referência: a primeira jornalista negra da televisão brasileira. Considerando que sua estreia se deu na década de 1970, era esperado que, após quase 50 anos, houvesse uma grande quantidade de repórteres negros na televisão. Mas a realidade, depois de meio século, não mudou muito.
Maria Julia Coutinho, a Maju, foi a primeira jornalista negra a apresentar a previsão do tempo na Rede Globo. Ainda nessa lista de jornalistas negras que têm destaque em cadeia nacional, podemos elencar Zileide Silva e Joyce Ribeiro. Com um pouco menos de reconhecimento, também compõem essa pequena lista Luciana Barreto, que já teve passagens pelos canais Futura, GNT, BandNews e TV Bandeirantes, e apresenta atualmente o Repórter Brasil Manhã, na TV Brasil, e a própria Luciana Camargo, que já teve passagens pela TV Cultura, Gazeta e Rede Globo.
Quanto aos homens, a lista, por incrível que possa parecer, ainda é mais curta. Possuem visibilidade o jornalista esportivo Abel Neto e Heraldo Pereira, que foi o primeiro negro na bancada do Jornal Nacional, em 2002. Trabalhando em uma emissora de menor expressão e possuindo, portanto, menor destaque, Rodrigo Cabral, já há 18 anos na RedeTV!, também faz parte desse grupo.
Para enumerar jornalistas negros reconhecidos nacionalmente não é exigido muito tempo, nem um grande pedaço de papel.
Essa breve lista não inclui todos os jornalistas negros da televisão. Consideramos aqui apenas os que têm maior visibilidade dentro de suas emissoras, os que são mais conhecidos pelo telespectador. Se fizermos a mesma lista para os jornalistas brancos, veremos que ela será infinitamente maior.
Infelizmente, ainda precisamos comemorar a conquista de negros em lugares que já deveriam estar ocupados por eles há muito tempo, como em uma bancada de jornal, por exemplo. Ainda veremos muitos outros jornalistas sendo os “primeiros” entres os negros a fazer determinada coisa ou a conquistar determinado lugar, assim como Glória Maria (lá na década de 1970), Heraldo, Maju e, agora, Luciana e Rodrigo.
Ao final do RedeTV News, em tom de informalidade, os jornalistas conversam sobre esse fato inédito na televisão brasileira. A âncora Luciana diz: “E a RedeTV! sai na frente. Pela primeira vez em nosso país, uma emissora de TV dá a oportunidade a dois jornalistas negros, né, Rô, de apresentar juntos o principal telejornal da casa. Nós agradecemos à diretoria da RedeTV! por essa oportunidade.” Rodrigo, por sua vez, complementa: “Sem dúvidas, agradecemos, sim, Lu. Obrigado, RedeTV!, por nos permitir participar desse marco histórico. É uma grande honra e uma grande responsabilidade também”.
Em entrevista ao UOL, o superintendente de jornalismo e esporte da RedeTV!, Franz Vacek, relatou que o acontecimento não foi programado. “Foi uma coincidência. Vi a escalação e pensei: ‘Tem que ser e vamos incentivar para que isso ocorra mais vezes’. São dois excelentes profissionais, que merecem muito mais espaço. Estou feliz pela oportunidade, uma concessão pública de TV tem que fazer isso mesmo. Por outro lado, é triste que tenha demorado tanto para que houvesse uma bancada negra no Brasil”, afirmou Vacek.
Que essa atitude seja como um espelho para as outras emissoras. Que apenas possa ser destaque o trabalho que cada jornalista exerce, e não mais uma posição que já é natural para outros grupos.