Bates Motel teve um percurso um pouquinho problemático ao longo sua trajetória. Depois de uma primeira temporada excelente, perdeu o fôlego em diversos momentos nos anos seguintes com histórias paralelas bastante insossas. A relação entre Norma e Norman, entretanto, sempre foi o coração da série. Em quatro anos, o roteiro conseguiu estabelecer uma conexão absurda entre os dois personagens, graças a um texto muito bem elaborado e ao talento de Vera Farmiga e Freddie Highmore, dois atores injustiçados tanto no Globo de Ouro quanto no Emmy. Em sua quinta e última temporada, Bates Motel potencializa ainda mais a perturbadora relação entre mãe e filho, especialmente agora em que série alcança os acontecimentos vistos no filme e foca mais na doença mental de Norman.
A série vai crescendo a cada episódio e consegue expandir o clássico sem jamais desrespeitá-lo.
Começando já de forma bastante bizarra, a temporada mostra um Norman mudado, mesclando a personalidade dele com a da mãe. A série já consegue ampliar o que vimos pouco no filme, nos possibilitando espiar a relação de Norman com a mãe depois de morta. Se nos últimos anos vimos Norma compreendendo que seu filho sofria de uma doença e que, enfim, talvez fosse bom os dois procurarem ajuda, agora vemos a “mãe” como no início da série, sempre paranoica, ultra protetora e perigosa. O talento de Vera Farmiga fica ainda mais evidente quando a atriz consegue passar toda a personalidade doentia de Norma, seja quando ela faz o papel da mãe doce ou quando ela precisa incorporar uma assassina para livrar o filho dos problemas. A diferença é que agora Farmiga pode se soltar e incorporar a personagem louca que a série sempre prometeu.
Mas nestes cinco primeiros episódios quem se destaca mesmo é Freddie Highmore. Cada vez mais se aproximando da atuação de Anthony Perkins, mas sem tentar imitá-lo, Highmore é assustador ao exibir um olhar perturbador mesmo quando o personagem soa doce. A cada episódio, Norman se torna mais dependente da mãe, exibindo uma dupla personalidade que incomoda o público e deixa a narrativa complexa. Afinal, qualquer fato visto na série pode ser, na verdade, a realidade distorcida de Norman. Interessante perceber, também, como a direção da série está cuidadosa ao mostrar Norman agindo como Norma. Assim, diversas cenas alternam as interpretações de Vera e Highmore, com maior destaque para o ator, que estudou os maneirismos na atuação da companheira de cena, fazendo com que os dois criem uma dinâmica excelente.
Os personagens secundários e as histórias paralelas desinteressantes ainda estão lá, mas não incomodam tanto quanto antes, já que todos os plots se dirigem a Norman e Norma. Assim, a série vai crescendo a cada episódio e consegue expandir o clássico sem jamais desrespeitá-lo.
Raramente vemos produtos derivados de clássicos acertarem o tom, mas Bates Motel vai chegando ao fim de forma muito digna. Mesmo trazendo a série para os tempos atuais, os produtores e roteiristas sempre tiveram o cuidado de inserir elementos e homenagens que deixavam a história sempre tensa, assim como no filme. Faltando apenas cinco episódios para seu fim, Bates Motel se torna uma obra que pode, arrisco a dizer, facilmente complementar o original de Hitchcock. E isso é um mérito e tanto.