Bates Motel estreou em 2013 com muita desconfiança por parte do público e crítica (leia aqui nossa primeira crítica sobre a série). Afinal, adaptações de clássicos já não são bem faladas e quando lidamos com Psicose e Alfred Hitchcock, então, a coisa é mais séria ainda. O filme de 1960 não é só um clássico, mas uma aula de cinema de como se fazer um bom suspense. Desde a icônica cena do chuveiro até os planos de câmera, trilha sonora, cortes, tudo é brilhantemente utilizado para criar uma atmosfera aterrorizante. Portanto, era arriscado fazer uma série de TV que tinha como proposta contar a adolescência de Norman Bates e a relação doentia com sua mãe. Era tocar algo que deveria ser intocável.
Mas o resultado, afinal, foi extremamente positivo. Criada por Carlton Cuse (Lost), Kerry Ehrin e Anthony Cipriano, a série é o prólogo para o filme de 1960 (baseado no romance homônimo de Robert Bloch), que mostra a vida de Norman Bates (Freddie Highmore) e de sua mãe Norma Bates (Vera Farmiga) antes dos eventos retratados no longa original. A série começa depois da misteriosa morte do marido de Norma, quando ela compra um motel localizado em uma cidade na costa do estado de Oregon, nos Estados Unidos, buscando, assim, uma vida nova.
Se nas duas primeiras temporadas vimos apenas um ensaio do que seria a relação errada de Norma e Norman, neste terceiro ano a psicose e dependência do filho para com sua mãe alcançam níveis muito maiores e intensos. Vemos o personagem, cada vez mais, se aproximar da figura assustadora do Norman cinematográfico, vivido por Anthony Perkins. A atuação de Freddie Highmore é mais do que um presente para os fãs e mostra um cuidado do ator ao respeitar a importância do original e todas as suas nuances. Com apenas 23 anos, o ator consegue assustar com seu olhar perdido e doente, ao mesmo tempo em que encanta com sua voz frágil e olhar doce.
Se nas duas primeiras temporadas vimos apenas um ensaio do que seria a relação errada de Norma e Norman, neste terceiro ano a psicose e dependência do filho para com sua mãe alcançam níveis muito maiores e intensos.
E se Highmore é um presente, Vera Farmiga é um deleite para o público, entregando uma atuação digna de palmas em todo episódio. Assim como o filho, Norma Bates é extremamente complexa, vivendo em um eterno conflito entre o amor que sente pelo filho e a constatação de que algo errado acontece com ele. A série, aliás, é feliz em não colocar toda a culpa pela doença de Norman nas mãos da mãe. Ainda que Norma seja super protetora e dependente do filho, os roteiristas preferem humanizá-la, deixando o público concluir se a psicose de Norman vem de algum problema isolado ou se é reflexo de sua criação.Ainda assim, é perturbador assistir a relação entre os dois, quase que incestuosa. Portanto, é perfeitamente plausível quando Norman começa a sentir uma atração sexual pela sua mãe em determinado ponto da temporada, ao mesmo tempo em que é compreensível como a mãe decide ignorar o fato, apenas para viver em negação, piorando muito o estado mental do filho.
Outro grande acerto, que vem desde sua primeira temporada, é a perfeita direção de arte, que mescla um cenário atual com um clima dos anos 1960. Mãe e filho moram em uma casa antiga, escura, feita de madeira, assim como são donos de um carro velho, assistem a filmes em preto e branco e usam roupas não muito modernas. Norman, por exemplo, jamais se refere a Norma como mom, mas mother, muito mais formal e incômodo. Ao mesmo tempo, eles têm Iphones e computadores modernos. A fotografia também confere um ar sombrio, com tons azulados, locais úmidos e que lembram muito a atmosfera do longa original.
Porém, se a relação de dependência é o que faz a série valer a pena, desde o começo Bates Motel apresenta histórias paralelas que servem claramente para encher linguiça. É óbvio que, por ser uma série de TV, os roteiristas devem desenvolver outras histórias além da principal e até fizeram isso de forma inteligente na primeira temporada, mas no terceiro ano elas alcançam níveis problemáticos.
O maior defeito é que boa parte dos episódios foram reservados para focar na relação do outro filho de Norma, Dylan (Max Thieriot) e seu pai/tio Caleb (Kenny Johnson), irmão de Nora. A história entre os dois é perturbadora, já que Dylan é fruto de um estupro cometido por Caleb contra sua irmã. Mas, ainda assim, a narrativa não se desenvolve, terminando de forma fraca e, de certa forma, fácil demais.
Outro grande erro dessa temporada foi o enredo de um pen-drive misterioso entregue a Norma por uma prostituta. Esse dispositivo esconde segredos que os chefes do crime da cidade não querem que sejam revelados. Assim, Norma acaba barganhando com pessoas perigosas, mas logo percebe que ela e seu filho correm perigo. Ainda que pareça interessante, a sub-trama não acrescenta absolutamente em nada, terminando de forma preguiçosa, esquecível e dispensável. Ainda, foram inseridos personagens e situações que não fizeram o menor sentido, a não ser encher o tempo de tela para completar a cota dos 40 minutos por episódio.
Portanto, é frustrante perceber que os roteiristas não são eficientes em criar sub-tramas interessantes e inteligentes, já que a forma como as histórias são contadas mais irritam do que geram interesse. Ainda assim, nos seus últimos episódios, Bates Motel mostra sua força ao retratar um Norman já quase totalmente psicopata, assim como o relacionamento cada vez mais doentio com sua mãe.
Bates Motel ainda é uma série relevante em sua proposta, se aproximando cada vez mais de Psicose. Porém, renovada para mais duas temporadas, os roteiristas precisam urgentemente criar história com um ritmo mais interessante. Caso contrário, a produção vai continuar investindo em tramas irrelevantes que tomam conta da metade da temporada para apenas mostrar seu potencial nos últimos episódios.