Já vimos muitas histórias sobre romances que não podem se concretizar por conta de diferenças religiosas. Ainda assim, a série romântica Ninguém Quer, da Netflix, consegue trazer um gostinho surpreendente de querer ir até o fim dos 10 episódios. Aqui, acompanhamos o amor quase impossível entre um rabino, Noah (vivido por Adam Brody), e Joanne (interpretada pela sempre divertida Kristen Bell), uma podcaster que mantém com a irmã um programa sobre sexo
Então, qual é o prazer de ver uma história que certamente já visitamos antes? A questão aqui está nos detalhes, que dizem respeito a um roteiro afiado e, principalmente, pela performance dos atores protagonistas e secundários da trama. Na narrativa, Joanne é uma mulher descolada e meio cínica (ela parece, de muitas formas, retomar o seu papel em The Good Place), mas cuja personalidade desbocada esconde uma profunda insegurança sobre relacionamentos. Ela faz dupla com sua irmã ainda mais tresloucada Morgan (papel de Justine Lupe, que já chamava a atenção em um papel menor como Willa em Succession).
Por um acaso do destino, Joanne conhece Noah, que parece ser um partidão: bonito e engraçado, ele é um rabino em ascensão em sua comunidade judaica. Embora tenha acabado de se separar de sua namorada judia (vivida por Emily Arlook), Noah se encanta rapidamente pela mulher que, como diz sua ex, “é o oposto de tudo o que ele sempre quis”.
É uma história de um romance proibido da melhor qualidade, que vai nos conquistando aos poucos, e tem a ver com as maneiras pelas quais a história dos dois parece estar sendo sabotada. Há as inseguranças de Joanne, os dilemas profissionais de Noah e, claro, toda a conspiração contra eles causada pela comunidade judia, que nunca irá aceitar que o rabino se una a uma shiksa.
‘Ninguém Quer’: personagens marcantes oxigenam a série
Vale dizer que Ninguém Quer explora, na cara dura, todos os clichês difundidos em torno do judaísmo. Há piadas sobre o uso de perucas e sobre a prática de fazer sexo por um furo no lençol. E há, claro, o mote meio batido da mãe judia ultracontroladora da família (aqui, personificada na impagável Tovah Feldshuh, um dos grandes trunfos da série).
Vale dizer que Ninguém Quer explora, na cara dura, todos os clichês difundidos em torno do judaísmo.
O texto, embora discuta a importância da tolerância e da aceitação das pessoas que são de outras religiões, parece carregar um discurso de fundo que advoga em prol da fé judaica. Isso se revela em certos chistes no roteiro, como quando um personagem diz que, por ser católico, foi “ensinado a se odiar”.
Esses são apenas detalhes que não estragam a diversão dessa série curtinha. A química entre Noah e Joanne parece bastante convincente, enquanto as angústias dela, com um medo enorme de se comprometer e ser abandonada, encontra eco em grande partes das pessoas. Também vale destacar que, embora Joanne lembre a Eleanor de The Good Place, a série se esquiva de pintá-la como uma mulher moralmente má e totalmente sem ética.
E, por fim, brilham os atores e atrizes do elenco de apoio. Entre eles, destacam-se a espevitada Morgan, Sasha, irmão de Noah, interpretado pelo sempre cativante Timothy Simons (que foi responsável por um dos mais icônicos personagens da comédia televisiva dos últimos anos: o atrapalhado mal-intencionado Jonah Ryan de Veep), que mais parece um urso humano. E há ainda o complemento da sua esposa xarope Esther (papel de Jackie Tohn, que participou de Glow).
Divertida e leve, ao mesmo tempo capaz de provocar alguma reflexão, Ninguém Quer é aquela típica série de conforto que parece nos abraçar quando assistimos. Nem precisava entregar mais que isso.
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