É, eu sei. Devo ser uma pessoa amarga, triste e que não entendeu a grandiosidade da obra de arte que é Sense8. Do alto da sua pretensão da primeira temporada até seu segundo ano cheio de fan service, Sense8 nunca me pegou, embora o discurso, a ideia e a intenção sejam as mais nobres possíveis. Mas se, para mim, o caminho foi sempre cansativo, o grande trunfo da produção da Netflix foi fazer uma ficção científica representativa e que tivesse algum significado. Deu certo para muitos.
O problema é que a série sempre tentou ser mais do que realmente era. Com cenas belíssimas e uma direção de arte de tirar o fôlego, Sense8 esquecia do básico: contar uma boa história. Tudo isso fica bem evidente no último episódio da série, feito apenas para fechar a narrativa depois de a Netflix cancelar a produção após a segunda temporada.
Reunindo todos os personagens possíveis, o último episódio mostra a luta dos sensates para derrubar a organização BPO e proteger o futuro dos outros sensates ao redor do mundo. É basicamente isso e a série provou que já não tinha mais para onde ir.
Sense8 se tornou uma produção com um nicho bem claro e, talvez por isso mesmo, tenha se perdido na hora de criar um roteiro sólido. O último capítulo tenta mesclar drama, comédia e ação com cansativas e confusas cenas, até mesmo constrangedoras, especialmente quando tenta forçar um humor pastelão. Com personagens que mais parecem representações de alguma coisa do que pessoas reais, a série se firma em frases de efeito para dizer, mais uma vez, que estamos todos juntos, que somos iguais, que somos fortes quando unidos. Um monólogo incansável. Bonito e só.
O que sobra em representatividade infelizmente falta em ritmo.
O que sobra em representatividade, infelizmente, falta em ritmo, mas no fim, nada disso importa. Se durante suas duas temporadas Sense8 lutou para apresentar uma complexidade fajuta, o ultimo capítulo parece relaxar e entregar exatamente o que os fãs queriam. Com algumas piadinhas aqui, umas reflexões ali e umas lutas acolá, a história se fecha exatamente como começou: um compilado de cenas lindas que estão lá apenas para satisfazer a vontade do público.
De qualquer forma, a trajetória de Sense8 é bonita quando pensamos na força dos fãs. Se não fosse por eles, esse final nem existiria. Mesmo sendo “o crítico ranzinza que não entende como a série transcende o tempo-espaço e fala sobre a conexão humana em mundo tão distante”, eu espero de coração que os fãs tenham ficado satisfeitos. Com direito a (mais uma) suruba poética, casamentos e uma música para todos cantarem juntos sorrindo, Sense8 respeitou o que o seu público queria, mesmo que o resultado tenha sido mais do mesmo.