The Family é a nova aposta do canal norte-americano ABC para as noites de domingo, dia já tradicional voltado aos dramas familiares. Mas diferente de outras produções bem-sucedidas que ocuparam o horário nobre de domingo – como Desperate Housewives e Brothers and Sisters – The Family pega todas as fórmulas já utilizadas em dezenas de outras produções e tenta criar um produto complexo e instigante, mas a única coisa que conseguiu, até o momento, foi destacar os furos em seu fraco roteiro.
Com sete episódios já exibidos, a série criada por Jenna Bans (que já trabalhou nos roteiros de Desperate Housewives, Private Practice e Scandal) conta a história da família Warren. Quando Claire Warren (interpretada pela ótima Joan Allen) concorre à prefeitura de um cidadezinha no Maine, seu filho mais novo, Adam (Liam Janes), é sequestrado e assassinado após um comício. Dez anos depois, com Claire agora prefeita da cidade e após um doloroso processo de luto, Adam, que não tinha morrido, consegue se libertar do cativeiro onde foi mantido por seu molestador. Enquanto o filho é recebido com amor por quase toda a família, alguns segredos começam a aparecer e uma suspeita intriga os mais avisados: será que o garoto é realmente quem diz ser?
Ainda que a sinopse não chegue a ser um frescor de originalidade, The Family tem recursos que fazem dela bastante interessante. Colocar segredos dentro de uma família e revelá-los aos poucos é sempre uma boa novela, sendo exatamente o que o público norte-americano espera de um domingo à noite. O uso de flashbacks para montar o quebra-cabeças também é um recurso narrativo nada novo, mas que funciona, caso usado de maneira inteligente. Não é o caso. Ao invés de utilizar o ir e passar do tempo para instigar a audiência, a série vai e volta a cada cinco minutos. Tentando confundir o público sobre o que é o passado e o que é o presente, o roteiro se desespera e força situações que nos episódios seguintes já não fazem sentido. É como se uma pessoa escrevesse o roteiro da semana e passasse a outra, que escreve sem se preocupar com as ligações do texto anterior.
O problema é que a série não segura a audiência para ser apenas uma minissérie e também é frágil demais para ter mais de uma temporada.
Assim, temos referências a Damages, Bloodline, The Killing, Les Revenants e até mesmo a um documentário britânico chamado The Imposter, que tem exatamente a mesma história. Mas se essas produções contavam com um time de roteiristas e montadores capazes de criar expectativa (ainda que não uma grande audiência), The Family parece fazer tudo com uma qualidade abaixo da média, a começar pelo elenco e por situações completamente forçadas para fazer a narrativa andar. A policial Nina Meyer (Margot Bingham), responsável pelas investigações, obviamente tem um caso com o pai de Adam, John Warren (Rupert Graves), mas isso consome sua consciência. John gosta de Nina, mas não deixa a esposa para não prejudicar sua campanha como governadora. O filho mais velho, Danny Warren (Zach Gilford, de Friday Night Lights), tem problemas com bebidas e ninguém o leva a sério, mas é o primeiro a suspeitar que algo errado está acontecendo. A filha, Willa (Alisson Pill), é uma mulher tensa, religiosa e que precisou amadurecer o mais rápido possível após o desaparecimento de seu irmão. Temos, ainda, o vizinho Hank (Andrew McCarthy), preso pelo assassinato de Adam e solto após seu retorno. Hank confessou que matou o garoto porque Nina encontrou pornografia infantil em seu computador. Tudo isso é mostrado em incessantes “10 anos atrás” e “Dias atuais” durante todos os episódios.
O problema é que a série não segura a audiência para ser apenas uma minissérie e também é frágil demais para ter mais de uma temporada. Ainda que lá pelo sexto e sétimo episódio The Family consiga uma atenção maior – já que alguns dos arcos vão ganhando respostas – a pobreza narrativa grita mais alto. Se há uma certa coragem em mostrar o cotidiano de dois pedófilos, a série simplesmente falha ao contar sua história de maneira fraca. Nada é muito crível, os discursos de família unida, porém quebrada, soa forçado e a história simplesmente não mostra força suficiente para ganhar a confiança do público.
Essa fragilidade diz muito sobre as diversas tentativas dos canais abertos norte-americanos emplacarem seriados de prestígio. Com o boom de produções de canais fechados e a popularização da Netflix, a audiência dos canais abertos despenca a cada semana (The Family já sofre com quedas bruscas nos números). Ainda que tenhamos alguns sucesso como Empire e Grey’s Anatomy, fica clara a escolha de um roteiro mais simples e fácil de digerir. Mas será que o público médio norte-americano que consome televisão aberta prefere engolir qualquer produção meia boca do que assistir a algo com qualidade?
The Family, então, parece ser uma série que fica no meio termo. Se há alguns ensaios que deixam a série interessante, a forma como os roteiristas a conduzem é fraca e sem coragem, como se o público fosse limitado. Assim, The Family não inova e não surpreende, sendo uma produção esquecível e, logo mais, certamente cancelada.