A quarta temporada de Unbreakable Kimmy Schmidt estreou no dia 30 de maio, com os seus primeiros seis episódios liberados na Netflix. A sitcom, que foi indicada a 16 prêmios Emmy Primetime, se encaminha para a reta final: de acordo com o portal de entretenimento norte-americano Deadline, essa será sua última temporada.
They alive, dammit!
Quanto aos personagens, a temporada não traz grandes reviravoltas. As personalidades fortes e já muito bem definidas de Kimmy, Titus, Jacqueline e Lillian guiam a narrativa e se mantêm consistentes até o fim. A série até correria o risco de se tornar previsível, mas seu humor genial e frequentemente absurdo impulsiona os personagens e suas histórias.
É tal humor que torna situações cotidianas extremamente divertidas. A ingenuidade de Kimmy a leva a várias desventuras, a mais memorável delas já no primeiro episódio. A pedido de seu chefe, Kimmy precisa demitir um colega de trabalho. Mas como lhe dar a notícia sem constrangê-lo?
Como podemos ver no vídeo, eis que ela o chama para o escritório, faz uma massagem em suas costas, lhe dá um smoothie, e, para lhe mostrar que todos fazem coisas embaraçosas às vezes, ela abaixa as próprias calças. Isso mesmo. Ela abaixa as calças.
A cena, regada à vergonha alheia, consegue piorar — ou, na nossa perspectiva, ficar ainda melhor. Seu colega de trabalho, visivelmente transtornado, sai às pressas da sala de Kimmy. Ela, de calças abaixadas, vê que ele não levou o smoothie e não pensa duas vezes antes de exclamar: “Ei! Essa coisa não vai se chupar sozinha!”. Pois é.
A cena foi apontada por críticos como uma possível referência ao movimento #MeToo, o que faria todo o sentido. Ao invertermos os papéis, colocando um homem no lugar de Kimmy, percebemos que essa história já foi contada. E mais de uma vez.
Kimmy, tentando se defender, diz palavras que também nos soam familiares: “Foi um mal entendido”, afirma nossa ingênua protagonista. “Ele que levou para o lado errado”. Mas tudo bem, gente. Nesse cenário específico, toda a situação do “assédio por engano” é crível. Afinal, ficar em um bunker dos 14 aos 29 anos realmente pode atrapalhar sua noção de certo e errado.
Females are strong as hell!
Ao #MeToo, também foram feitas referências mais explícitas. Alfinetadas não faltaram, sendo as mais memoráveis a Kevin Spacey, Harvey Weinstein e Donald Trump. As menções ao presidente estadunidense contam, inclusive, com um vídeo reproduzido na série.
A série até correria o risco de se tornar previsível, mas seu humor genial e frequentemente absurdo impulsiona os personagens e suas histórias.
O vídeo mostra um discurso de Trump quando ainda candidato à Presidência, em outubro de 2016. Nele, o magnata se defende de uma acusação por assédio sexual. “Acredite em mim, ela não seria minha primeira escolha”, diz, em tom de zoação. Não é preciso dizer que a resposta em si já se configura como um ato extremamente misógino. A assertividade de Kimmy também contribui para as discussões sobre o movimento feminista (que defende que homens e mulheres tenham equidade de direitos).
Nossa protagonista questiona o machismo de Fran Dodd, um dos homens que apoia o sequestrador de Kimmy, o Reverendo Richard Wayne Gary Wayne. Segundo Fran, o bunker representava um retorno aos valores tradicionais: os homens seriam fortes e bons com mapas, por isso, cuidariam das mulheres. As mulheres seriam fracas, portanto, cuidariam das crianças. As crianças cuidariam dos cachorros, que cuidariam dos gatos, que… bem, cuidariam deles mesmos. Pura lógica, certo?
O ódio de Dodd é tão extremo e infundado que chega a ser risível. O que é triste é percebermos que tal sentimento não é puramente ficcional e encontra representação significativa nos dias de hoje. O que nos leva à mesma pergunta que Kimmy fez a si mesma: “O que tem de errado com os homens neste país?”