O desespero por uma sobrevida se faz presente há muito na vida de vários povos espalhados pelo mundo inteiro. Na mídia nacional e internacional foi retratado, em 2015, como auge desse desespero, a imagem de um garoto sírio morto, em uma praia, que fugia com sua família em busca de uma vida digna.
A consternação mundial gerada por essa cena foi momentânea e o que se vê em seu lugar é a disseminação do ódio e a agressão, seja física ou verbal, contra os refugiados. A diária xenofobia ganhou repercussão nos meios de comunicação brasileiros na última semana, com o ataque de brasileiros a venezuelanos que se encontravam acampados em Paracaima, cidade de Roraima.
Essa crise de refugiados, que é um problema mundial, é refletida, de alguma forma, no reality show musical global The Voice Brasil. Embora esse tema não seja explorado pelo programa, o simples fato de pessoas refugiadas participarem do programa denota esse momento de constante fuga e procura por melhores condições de vida em outro país.
Em 2017, participou do programa a congolesa Isabel Antonio, na época com 16 anos. A garota fugiu do seu país, a República Democrática do Congo, em 2015, devido à guerra. Meses depois de sua chegada ao Brasil, Isabel entrou para o coral de refugiados “Somos Iguais”, regido pelo maestro João Carlos Martins. A Rede Globo convidou cinco membros desse projeto para participarem do The Voice Kids. Isabel foi a única selecionada, mas por sua idade foi direcionada ao The Voice Brasil. Escolhida pelo técnico Carlinhos Brown, ela foi até a fase da Batalha dos Técnicos.
Se por um lado o programa reflete esse atual contexto migratório, por outro ele não retrata o real tratamento que é dado aos refugiados.
Nesse ano, um outro candidato refugiado participou do programa. Guipson Pierre, de 26 anos, veio do Haiti após o terremoto que acometeu o país em 2010. Também no time de Carlinhos Brown, o haitiano foi eliminado na última terça, 21, na fase de Batalhas. Confira a apresentação de Guipson na fase das Audições às Cegas.
Ambos participantes foram acolhidos pelos técnicos e puderam contar um pouco de suas histórias de vida. O objetivo do programa com esses relatos pode até ter sido sensibilizar o público para garantir bons índices de audiência, mas, como disse Alejandro Mercado em coluna aqui no portal, “isso não significa em hipótese alguma que abordar tais temas se torne menor.” Na realidade, é essa sensibilização para com a realidade do outro que ocorre a partir das rebuscadas narrativas televisivas que deveria existir dia a dia no convívio com aquele que vem de longe.
Se por um lado o programa reflete esse atual contexto migratório, por outro ele não retrata o real tratamento que é dado aos refugiados, já que os técnicos os acolhem e os exaltam a todo momento. Não importa, portanto, se os artistas do reality musical fazem isso por vontade própria ou apenas para compor o roteiro da televisão. Que sejamos, nesse sentido, mais Ivete, mais Lulu, mais Teló e mais Brown.