Young Sheldon venceu na TV norte-americana. Claro que ser um prequel de The Big Bang Theory, um dos maiores sucessos recentes da televisão, pesa na balança. Mas, como já apontado no texto em que a Escotilha tratou da temporada de estreia, as séries caminhavam em sentidos opostos. Chegando ao fim de sua terceira temporada, este detalhe fica cada vez mais evidente. Para o bem e para o mal.
Young Sheldon tem propiciado cada vez mais minutos aos personagens secundários, como Connie (Annie Potts) e Georgie (Montana Jordan). Ao oferecer suas histórias pessoais ao espectador, dentro de uma estética diferente da apresentada em TBBT, a série ganha vida própria, tornando Sheldon (em YS, Iain Armitage) um personagem menos caricato, porém não muito interessante.
Sheldon torna-se cativante justamente nos instantes que o seriado permite que conheçamos detalhes que compõem o personagem que se tornou ícone do humor nas últimas décadas. Suas dificuldades de socialização, a temosia e as neuroses já são características conhecidas do público, como ele chegou até esse ponto, o modo como isto causou problemas que impactaram outros aspectos de sua vida, bem, esses ainda eram desconhecidos.
A partir desta terceira temporada, o time de roteiristas da série da CBS parece ter notado que criar um DNA próprio para o programa era fundamental para dar vida longa a ele.
A partir desta terceira temporada, o time de roteiristas da série da CBS parece ter notado que criar um DNA próprio para o programa era fundamental para dar vida longa a ele. Talvez por isso os episódios centrados em Mary Cooper (Zoe Perry) diminuíram, o mesmo valendo para Sheldon. Não foram poucos os capítulos em que ambos personagens foram pouco menos que coadjuvantes. Foi essa estratégia que deu fôlego à temporada.
Entretanto, a sensação deixada no segundo ano que era necessário dosar a presença da dupla Sheldon/Mary fez com que a ligação com sua “série mãe” ficasse fragilizada. O humor em Young Sheldon fica cada vez mais suave, delicado, menos jocoso. Trata-se menos de um humor inteligente, que tem marcado boa parte das novas sitcoms pós-anos 90, e mais da aproximação de um tom familiar, muito próximo do que Anos Incríveis fez na virado dos anos 1980 para os 90.
A aproximação já havia no início, mas este ano ficou mais evidente. A jornada de Missy (Raegan Revord) no baseball é, talvez, o exemplo mais claro. A preocupação passou a ser direcionada a temas mais amplos e não simplesmente a fazer rir. O amadurecimento de Georgie, ganhando dinheiro trabalhando como vendedor da loja do novo namorado de Connie, também é outro exemplo marcante. Ele não deixou de ser apresentado como o irmão mais ignorante, mas foi humanizado como parecia improvável no começo.
O preço dessa “reforma” pode vir a ser a perda de parcela considerável da audiência oriunda de TBBT, sendo que parte já não havia passado dos primeiros episódios do ano inicial de Young Sheldon. Os números de audiência, por sinal, nunca chegaram aos da série encabeçada por Jim Parsons, mas se mantiveram estáveis desde então. Concomitantemente, pode atrair um público que nunca imaginou assistir algo relacionado ao grande sucesso da CBS. Só o futuro (e os números da quarta temporada) nos revelará o que acontecerá.