Se o primeiro ano de 13 Reasons Why viveu seu auge de audiência em meio a críticas ferrenhas de psicólogos e de boa fatia do público, que perceberam que o tema suicídio e bullying estavam sendo tratados de forma irresponsável, a segunda temporada consegue piorar ainda mais a situação.
Numa tentativa clara de ser mais consciente, 13 Reasons Why começa com um aviso dos próprios personagens dizendo que, caso você esteja passando por momentos parecidos e delicados como os tratados na série, é recomendável que não a veja ou a assista acompanhada dos pais, o que de certa forma esvazia o próprio discurso de que a série está estimulando alguma discussão ou conscientizando pessoas. A ingenuidade, aqui, é realmente acreditar que os produtores agora adquiriram um senso de responsabilidade, quando, no final, estão apenas querendo evitar críticas.
Se o primeiro ano trazia diálogos expositivos e situações para lá de clichês, o segundo ano consegue amenizar (um pouco) esses deslizes e apresentar uma história, digamos, narrativamente mais interessante, ainda que extremamente brega e com um ritmo repetitivo, mesmo que consiga manter a curiosidade do público. Mas, infelizmente, toda a temporada luta para provar sua própria existência.
A ideia é retratar as consequências da morte de Hannah (Katherine Langford) e como o suicídio da garota afetou os alunos da escola Liberty. O colégio se prepara para enfrentar um julgamento por negligência após a mãe de Hannah, Olivia (Kate Walsh), entrar com um processo contra a administração da escola. Com isso, para substituir as 13 fitas, temos agora os depoimentos dos alunos, que servem como estratégia para termos inúmeros flashbacks, trazer Hannah de volta e ampliar os pontos de vista sobre o que de fato ocorreu com a garota.
Clay (Dyllan Minnette) tenta superar a morte da amiga, mas está cada vez mais perturbado e começa a ter visões de Hannah, recurso para lá de preguiçoso apenas para justificar a presença da atriz na série e que não convence muito.
Toda a temporada luta para provar sua própria existência.
Com um roteiro que jura ser esperto o suficiente para soar necessário, a série surge como um grande compilado do que os fãs e crítica queriam e, ao final, tudo parece uma grande cartilha, algo como “Bullying – o que é, como se faz”, com soluções ingênuas e perigosas. Afinal, se a tentativa era a de mostrar Hannah mais complexa e menos maniqueísta, a segunda temporada só faz julgar ainda mais os atos da menina, especialmente pela visão de Clay, que embora tenha dado a oportunidade do ator mostrar seu talento, apresentou um personagem machista, revoltado e ainda mais egoísta.
O mote de que “toda história tem vários lados” acaba se perdendo num emaranhado de surtos e de situações que não fazem o menor sentido, como quando a série revela ao público que Hannah se relacionou com um colega da escola pouco antes de cometer suicídio, algo que não foi nem insinuado na primeira temporada. Uma coisa é oferecer novas perspectivas sobre uma narrativa complexa, outra coisa é adicionar camadas aleatórias apenas para esticar ou inventar histórias na linha do tempo de Hannah.
Junto com todo processo de escola e os depoimentos, temos outro enredo para fazer da história um thriller. Uma série de fotos Polaroid são enviadas para diversos personagens para avisar que Bruce Walker (Justin Prentice) é um estuprador em série e que Hannah não foi a única. Com isso, a série abre espaço para falar sobre cultura do estupro, o silêncio das vítimas, a negligência da escola, a vingança com as próprias mãos e diversos outros temas que os produtores acharam de bom tom inserir.
O problema não é a intenção, mas a forma. De maneira bastante didática, a série vai tentando se proteger de todas as críticas que recebeu ano passado. O suicídio de Hannah como forma de vingança poderia gerar uma reação em cadeia e incentivar o suicídio? Vamos falar sobre isso rapidamente. Que tal falarmos sobre a cultura das armas nos EUA? Dá pra inserir aqui. E se inseríssemos todos os questionamentos que nos fizeram ano passado na boca dos alunos e dos adultos? Ah, dá para fazer, sim. Jogos violentos estimulam a violência? Vamos fingir debater. Nessa linha, a série tenta dramatizar a vida adolescente dentro dos colégios de forma profunda, mas acaba tornando a narrativa folhetinesca e exagerada.
13 Reasons Why tenta, mas não consegue provocar uma discussão substancial como fez, por exemplo, a segunda temporada de American Crime. No final, a série novamente pesa a mão e viaja para algo pesado, sombrio e traumático apenas para chocar, não para gerar debate, o que comprova que os produtores não estão nem um pouco preocupados com a saúde mental dos jovens, embora a atitude seja, hum, aparentemente nobre aos olhos dos mais ingênuos. Obviamente, uma terceira temporada pode acontecer.