O desafio do filme Esquadrão Suicida, em cartaz no Brasil desde o começo de Agosto, não é fácil.
Afinal, fazer o máximo de dinheiro possível agradando o público em geral e evitar desagradar os fãs de quadrinhos é sempre uma missão difícil. Além disso, é grande a responsabilidade quando o assunto é o universo dos super-heróis, fórmula cada vez mais em alta com a ampliação da tecnologia, que permite uma execução mais próxima do ambiente fantástico antes desenhado.
Mas se o avanço tecnológico joga a favor ainda é preciso saber mostrar e montar uma boa história, incumbência maior em Esquadrão Suicida ao reunir vilões e torná-los heróis, o que acontece por meio do enredo no qual a agente Amanda Waller (Viola Davis) cria um grupo de metahumanos para combater possíveis ameaças que se tornam concretas após o ataque de Magia (Cara Delevingne), justamente quem seria a responsável por controlar o grupo formado por Amarra (Adam Beach), Arlequina (Margot Robbie), Capitão Bumerangue (Jai Courtney), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje), El Diablo (Jay Hernandez) e Pistoleiro (Will Smith).
Mas, além de fazer com que os caras maus se tornem bons por meio da ação é preciso também fazer isso perante o público para gerar uma identificação, feita erroneamente pelo ponto de vista visual, que opta pelo caminho mais rápido e fácil ao apresentar os personagens de maneira leve, divertida, pop e colorida, mas também acerta na via pela qual decide instaurar o senso de humanidade naqueles que estão adaptados à vilania.
Isso acontece pelo fato de a película instigar os nossos sentimentos por meio do amor, que surge na doentia relação entre Arlequina e o Coringa de Jared Leto, que aceitou o desafio de dar vida ao personagem vivido magistralmente por Heath Ledger e conseguiu se livrar do seu fantasma ao criar uma versão própria dessa figura icônica. Mas há também uma cumplicidade que se cria junto a El Diablo e Pistoleiro, que expõe esse sentimento por meio do vínculo familiar.
‘Tim, tim, quero justiça sim. Quando estourar a revolução quero acender o estopim. Quero ser para os meus filhos o que o vô deles foi pra mim. Quero saber de tudo, quero informações do mundo. Pois de certa forma, quem não se informa se conforma. Aceita a norma, não participa da reforma. Quero viver a vida e morrer com a sensação de que a missão foi comprida’. – Rapzodo – Sonhos
Essa aparente qualidade de caráter sendo confrontada com as falhas dos vilões pode até mesmo trazer uma identificação maior com o público do que com os próprios heróis, uma vez que nós também tomamos atitudes erradas mesmo que seja com o intuito de proteger quem amamos.
É isso o que acontece, por exemplo, com a figura do Pistoleiro, que mesmo sendo alguém capaz de fazer qualquer coisa em nome do dinheiro tem em seu ponto fraco a relação com a filha, que o leva a aceitar ser preso pelo Batman.
E é justamente a paternidade que faz com que o curitibano Rapzodo aproxime a sua música desse universo ao se apresentar como um herói do cotidiano em seu disco Nasce um Herói (2008).
Esse é o contexto que aparece em diversas faixas do disco, como na primeira delas (“Deserto”) em que há a ambientação de um local em que o personagem se coloca como sozinho em meio a uma raça humana que lhe dá enjôos por causa do seu comportamento.
Já nas faixas seguintes é possível ver que até mesmo os paladinos têm sentimentos, que são demonstrados de maneira vil como em “Raiva” ou nobre como em “Rimas pra ela” e “Sonhos”, faixa na qual ele revela os desejos pelos quais luta para tentar mudar a sua realidade.
Mas, para torná-los possíveis é preciso superar as barreiras impostas pela sociedade. E é isso que ele faz na música que dá nome ao disco. Na biográfica “Nasce um Herói” podemos perceber porque uma pessoa aparentemente comum pode se considerar notável quando enfrenta dificuldades como o fato de sair da sua condição de office boy para se tornar um alguém por meio da música.
Usando o microfone como arma, Rapzodo se transformou em um herói no movimento hip-hop em Curitiba ao unir seus superpoderes em torno do extinto Comunidade Racional, um dos principais grupos de rap da capital. O resultado dessa missão pode ser conferido em “Construir Zero Grau”, faixa na qual divide o microfone com Hurakán, também ex-integrante da Comunidade, e contam uma parte da história do hip-hop em Curitiba, roteiro que teve uma grande parte pensada e desenhada por eles.
Já em “Segunda Chance”, o eu lírico fala diretamente com o seu filho, a pessoa para quem ele realmente deseja ser um herói, e revela que apesar de flertar artisticamente com um mundo fantástico, a realidade é mais dolorida do que colorida (“filho: as coisas não acontecem como no desenho / papai não tem os poderes que você acha que eu tenho / o super-homem pode não chegar a tempo de salvar você / talvez o homem-aranha esteja numa maca dentro do HC / sem teia, sem poder, sem plano de saúde. / Heróis não sobrevivem numa sociedade rude”).
Após mostrar um retrato realista e ao mesmo tempo confortante ao filho, um cenário pós-apocaliptico é visto em “Prisioneiro”, música na qual o personagem é controlado por instituições e tem como missão livrar a si e a sua raça.
Missão Comprida.
PÓS-CRÉDITO: Embora não tenha mais sido visto após o seu último disco, Rapzodo irá participar do próximo trabalho da 0800 Crew.
Os heróis sempre voltam.
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