Bia Bedran faz parte de um seleto grupo de artistas que dedica sua criatividade e talento em prol do público infantojuvenil. Nos anos de 1980 e 1990, ela marcou presença na tevê em programas exibidos pela TVE Brasil (atual TV Brasil) e TV Cultura, que misturavam contação de histórias e música.
Além de conquistar gerações pela telinha com o Canta Conto e Lá Vem História, a atriz, compositora, cantora, escritora, contadora de histórias e arte-educadora, em mais de quatro décadas de carreira, percorreu todos os cantos do país e conquistou públicos de todas as idades com o seu trabalho. O resultado de sua imersão pela riqueza e particularidades da cultura brasileira motivou o convite do maestro Gilbran Helayel para um projeto especialíssimo.
Em VillaLoBiando, que cumpre temporada em Curitiba nos dias 21 e 22 de julho, no espaço Caixa Cultural, Bia Bedran percorre a obra de Villa-Lobos com direito a uma fantástica viagem pelo Brasil. “Este recital foi concebido pelo maestro Gibran Helayel, que me convidou para cantar as canções do Villa-Lobos selecionadas por ele para compor seu roteiro que terei um grande prazer de interpretar. No roteiro, constam textos e frases icônicas do próprio Villa, frases estas que conduzem o recital como numa viagem que o maestro fez pelo Brasil. O recital não é dirigido à infância, como normalmente faço no meu trabalho, tem uma linguagem de música de câmara somada ao meu jeito de narrar. O resultado deve agradar a uma ampla faixa etária de público, mas só saberemos depois da estreia”, comenta a artista.

Afastada da tevê há pelo menos 20 anos, Bia Bedran lamenta a ausência de uma programação voltada ao público infantojuvenil. Por outro lado, nesse período, a artista decidiu investir em outra forma de aproximação com a garotada. “Dediquei-me exclusivamente a cantar pelos diversos palcos, ao vivo, em teatros, escolas, praças, centros culturais, promovendo o que realmente acredito seja capaz de realizar alguma mudança de atitude nas pessoas: o contato olho no olho, a magia do fazer ao vivo, sentindo a reação direta do público. Claro que tenho vontade de fazer novamente um projeto de tevê, mas preciso de uma equipe artística que acredite no que eu acredito ser a chave mágica: cantar e contar histórias, simplesmente”, observa.
Para Bia, é possível alinhar tecnologia, criatividade e o universo lúdico para proporcionar às crianças viagens além das telas da tevê, celular e outros apetrechos. “Isso é possível com ações de implemento à leitura, com políticas públicas de incentivo ao teatro, aos espetáculos ao ar livre em parques e praças, em que a arte possa ser consumida sem a enxurrada de lavagem cerebral do consumismo. Aliás, é o consumismo o grande vilão da infância, e não somente dela, não é mesmo? Meus programas eram especialmente bacanas porque não havia propaganda de nenhum produto. Eu tive esta sorte, de poder trabalhar com a arte pela arte”, pondera.
‘Meus programas eram especialmente bacanas porque não havia propaganda de nenhum produto. Eu tive esta sorte, de poder trabalhar com a arte pela arte’
Ausência
A ausência de conteúdo para o público infantojuvenil, levando-se em conta, por exemplo, o fechamento de importantes publicações como a “Folhinha” (Folha de S. Paulo), é outra questão preocupante na avaliação da artista. “É uma perda lastimável. Tudo o que se produzia para esta faixa etária de público não poderia se extinguir. A produção de conteúdo para crianças e jovens é fundamental para sua formação, para sua articulação identitária do pensamento, sua noção de alteridade, respeito e cidadania. As crianças e jovens não podem ficar jogadas no mundo da internet como se tudo nascesse de uma telinha. Eu compus uma canção há 25 anos, quando notei a chegada desse mundo virtual e digital, que se chamava ‘O Videotinha’”, observa.
Com décadas de trabalho e inúmeros projetos voltados ao público infantil, o contato direto com as crianças garantiu grandes aprendizados à artista. “Aprendi que é possível viver o novo na tradição ao mesmo tempo em que se vive a tradição no novo. Que o mundo caminha longevamente em suas evoluções, mas uma coisa é imutável: a relação direta com o outro, as ações humanitárias, o que vem do coração e pula diretamente para o outro coração. Essa pureza do estar junto, simplesmente contando e ouvindo o outro, a arte pela arte, sem disfarces marqueteiros, isso sim é o que vale a pena”, avalia.
Para os fãs e admiradores do seu trabalho, Bia tem uma boa notícia: ela vai continuar na estrada. “Vou fazer minhas turnês pelo Brasil com meus próprios espetáculos e palestras (Bia é oficineira também e realiza workshops de formação de contadores de histórias) e quem sabe, também no exterior, lançar meus dois novos livros, gravar mais um CD e mais um DVD autorais. Vou torcer também para que esse espetáculo, Villa LoBiando, atinja mais e mais espaços e públicos”, finaliza.
SERVIÇO | VillaLoBiando
Quando: dias 21 e 22 de julho; sábado, às 15 e 18 horas, e domingo, às 17 horas.
Onde: Caixa Cultural Curitiba | Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Centro.
Quanto: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Venda de ingressos: na bilheteria do espaço cultural – de terça a sábado, das 12 às 20 horas; e domingo, das 16 às 19 horas.
Informações: (41) 2118-5111.