Chamou o pai no quarto de madrugada. Ele foi correndo.
– O que aconteceu, filho?
– Pai, de onde vêm os bebês?
– Filho, são duas da manhã. Depois a gente conversa sobre isso.
– Eu quero saber agora.
O menino se sentou na cama de braços cruzados.
– Lembra da cegonha do Dumbo? Ela que traz os bebês para os pais.
– Mas ela é um desenho.
– Não é exatamente ela, é uma igual a ela, mas de verdade.
– E como ela sabe que os pais querem um bebê?
– Os pais que encomendam. Agora vamos dormir? Amanhã falamos mais.
– Mas se a cegonha que traz, por que as mulheres ficam grávidas?
O pai se sentou na cama também.
– Cícero, quando duas pessoas se amam, elas se abraçam bem forte e os bebês se formam dentro da barriga da mulher.
– Isso não faz sentido nenhum. Onde entra a cegonha aí?
– A cegonha? A cegonha…
– É a cegonha que coloca o bebê dentro da barriga da mamãe quando os dois estão abraçados?
– Isso! É isso. Boa noite, meu amor, até amanhã.
– Mas, pai…
Deu um beijo na testa do menino e começou a se levantar.
“- Lembra da cegonha do Dumbo? Ela que traz os bebês para os pais.
– Mas ela é um desenho.”
– A cegonha faz um corte na barriga da mamãe com o bico pra colocar o bebê? Isso é horrível! Deve ficar cheio de sangue.
– Não, filho, ela é mágica. Ela faz uma mágica e, pronto, tá lá dentro.
– Mas, se os dois estão abraçados, como ela consegue fazer a mágica só na mamãe? E se, sem querer, ela fizer no papai também e os dois ficarem grávidos? É assim que se formam os gêmeos?
– Cícero, eu não consigo mais raciocinar. O papai tá com muito sono, a gente pode conversar sobre tudo isso amanhã?
– Não. Você já ficou grávido?
Sentou novamente na cama.
– Não, filho, isso não acontece porque a mágica da cegonha só pega na mamãe. O papai não fica grávido.
– Então por que falam que eu sou parecido com você? Se quem me fez foram a cegonha e a mamãe, por que eu pareço com você e não com a cegonha?
– Às vezes é difícil de acreditar que você só tem cinco anos.
– Por quê? Eu nasci em 2012, é só fazer as contas.
Deu mais um beijo na testa do menino, levantou novamente e foi andando em direção à porta do quarto.
– Boa noite, filho, até amanhã.
– Mas você não respondeu minha pergunta.
– Você não tem a cara da cegonha porque a gente encomendou você desse jeito, parecido comigo. Tá bom? Durma bem, daqui a pouco você já tem aula.
– E por que o Enzo não se parece nem com o pai dele e nem com a cegonha?
Saiu do quarto e respondeu do corredor.
– Não sei, filho.
– Mas se as coisas são desse jeito, pra que serve o sexo?
Parou por alguns segundos, com os olhos arregalados. Acordou a esposa.
– O Cícero tá chamando você pra perguntar uma coisa.