Entrou no banheiro no meio da madrugada.
– Mas que porra é essa?
– Um fantasma.
– Eu sei, né? Eu moro sozinha, você só pode ser um fantasma.
– Sou um fantasma do passado.
– Ah, pronto!
Começou a rir.
– Fantasma querido, não sei nem o seu nome, mas você vai vazar antes de me contar.
– Não vou, não.
– Ah, vai. Grande parte do meu passado foi uma bosta, se tem uma coisa que eu não quero é lembrar dele. Superei.
– Exatamente: foi uma bosta! E você quer que eu continue lá?
– Sim. Antes você do que eu.
– Você é muito egoísta, mesmo.
– A casa é minha, ué! O tempo é meu, também. É questão de justiça.
Apontou para a porta da sala.
– Eu sei, né? Eu moro sozinha, você só pode ser um fantasma.
– Sou um fantasma do passado.
– Ah, pronto!
– Vai. Se bem que você não precisa de porta, pode ir por onde bem entender. Só vai.
– Não.
– Eu quero fazer xixi! Levantei pra isso.
– Pode fazer.
– Você tá sentado no vaso.
– Eu sou um fantasma.
– Do passado, eu sei. Mas eu não quero sentar no meu passado e fazer minhas necessidades nele, não é pra tanto. Dá licença, por favor.
O fantasma levantou.
– Você jura que vai ficar olhando?
– Eu já vi coisa bem pior vinda de você.
– Puta cara chato. Me deixa.
– Só se você me deixar ficar.
– Espera na sala que eu já vou lá e a gente conversa.
Terminou o que tinha que terminar. Foi para a sala.
– É o seguinte: não posso deixar você ficar.
– Claro que pode.
– Não posso.
– Só uns dias.
– Passado é passado, entende? A gente precisa deixar pra trás pra poder seguir com a vida.
– Eu estou sendo legal de pedir, normalmente a gente aparece, assusta e vai embora quando quer. Pensa nisso.
– É porque você é um bom fantasma.
– Eu sou.
– Apesar de tudo.
– Sim.
– Mas não dá.
– Então infelizmente eu vou ter que ficar aqui pra assombrar contra a sua vontade, não tem jeito. Ser bacana não funcionou.
– Não faz isso, cara.
– Eu não queria fazer, de verdade, porque estou orgulhoso por você estar tão bem. Mas você não me dá outra escolha, não quero voltar, quero ficar no presente.
– Calma, vamos pensar numa alternativa.
Sentou no sofá. Os dois passaram alguns minutos pensando.
– Já sei. Perfeito. Já sei!
– Vai me deixar ficar uns dias?
– Não, melhor ainda: vou passar o endereço do meu ex.