O sol, a estrada, o vento entrando pela janela, as férias. Finalmente as férias!
– Eu nem consigo acreditar que a gente tá indo, amor.
– A gente merece esse descanso!
Duas horas na pista. Risadas, músicas, dancinhas. O carro parou.
– O que é isso? O que tá acontecendo?
– Parou tudo, Fausto.
– Eu sei que parou, Cláudio. Eu tô no carro! Mas por quê? O rádio continua.
– Eu não quero falar o motivo.
– Quê? Cláudio, olha pra mim.
– Não.
– Cláudio, a gente tá parado no meio da estrada, olha pra mim.
– Não quero.
– Me responde de uma vez: é a gasolina, não é?
– É a gasolina.
– Cláudio!
– Me desculpa, amor, me desculpa.
– Eu falei pra você ir no posto, você disse que foi!
– Eu fui.
– E?
– Comprei um enroladinho de presunto e queijo. Achei que a gasolina dava.
– Achou que a gasolina dava…
– Me desculpa, amor.
Ficaram alguns minutos contemplando o nada.
– O que você tá fazendo?
– Vou ligar pra minha mãe. Ela sai cedo hoje, pode vir aqui ajudar.
– Não! Sua mãe, não. Eu prefiro morrer de fome nessa estrada do que ter que aguentar aquela velha louca.
– Tudo bem, Fausto, ela me busca e deixa você aqui morrendo de fome, não tem problema.
Saiu do carro e andou de um lado para o outro, com o celular levantado. Voltou.
– A chata tá vindo?
– Não consegui sinal. Você venceu, a gente vai morrer aqui, parabéns.
Ficaram mais alguns minutos sem falar uma palavra.
– Cláudio…
– Amor, me desculpa. Eu vou resolver, eu vou procurar um posto.
– A gente tá no meio do mato! Só tem a gente, a estrada e mato. Ma-to. Só vai ter um posto por aqui se uma onça resolveu empreender.
– Eu vou ficar ali fora acenando pra quem passar, talvez alguém ajude.
Foram duas horas em pé, esperando qualquer veículo. Nem uma alma viva.
– Cláudio, de quantas horas você ainda vai precisar pra perceber que não vai passar ninguém?
– Quem quis viajar em baixa temporada pra gastar menos foi você! Mão de vaca.
– Ah, sim, a culpa com certeza é minha.
– Você quer discutir sobre culpados ou resolver a situação?
– Eu não quero discutir, quero conversar. Quero falar sobre ter esperado tanto pra liberarem o casamento gay no Brasil e eu ter que pedir o divórcio em tão pouco tempo, por você ser um irresponsável.
– Ah, vai pra puta que pariu, Fausto!
– Eu não quero discutir, quero conversar. Quero falar sobre ter esperado tanto pra liberarem o casamento gay no Brasil e eu ter que pedir o divórcio em tão pouco tempo, por você ser um irresponsável.
Deitou a cabeça no volante.
– Cláudio.
– Não fala comigo.
– Desculpa. Eu só quero pedir desculpas. Fiquei nervoso.
– Eu sei.
– É que foi muito dinheiro investido nisso, muita expectativa também. Eu tô frustrado.
– Eu sei. Também estou.
Deram as mãos, com sorrisinhos de canto de boca.
– Quer aproveitar que a gente tá aqui sozinho e fazer aquilo? A gente planejou tanto, vamos, só até o socorro aparecer.
– E se não aparecer?
– Vai aparecer. Uma hora ou outra, vai. Enquanto isso, a gente aproveita.
– Tá, vamos.
– Então, que comecem as férias!
– É por isso que eu amo você.
Deitaram os bancos. Dormiram profundamente.