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Home Crônicas Helena Perdiz

Guarda-chuva

porHelena Perdiz
16 de julho de 2015
em Helena Perdiz
A A
"Guarda-chuva", crônica de Helena Perdiz

Imagem: Reprodução.

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Coloquei a mochila nas costas e corri para o ponto. Depois de passar dois minutos olhando para lá e para cá, aceitei que o ônibus já havia passado e eu teria que ficar ali por, pelo menos, meia hora de puro tédio.

Fui pegar o celular e: cadê aquela desgraça? Tinha deixado em casa. Mas o guarda-chuva estava lá, me olhando ironicamente do fundo da bolsa, em mais um dia de sol em que ele me acompanhava. É engraçado – ou talvez seja triste – como o guarda-chuva é filho da puta com a gente. Ele é aquele cara que finge que nos ama e só quer ajudar, mas no fundo sente prazer com o nosso sofrimento.

A verdade que ninguém quer enxergar é que ele, o maldito guarda-chuva, tem uma forte influência sobre os fenômenos da natureza. Experimente levá-lo num dia nublado e observe nenhuma gota cair do céu. Experimente sair sem ele num dia de sol e descubra como São Pedro pode decidir lavar o quintal quando você menos espera – não que ele tivesse que avisar alguém, afinal, o quintal é dele.

Esse tipo de comportamento só pode ter um significado: o guarda-chuva teve uma infância sofrida e tornou-se um adulto insatisfeito, que desconta as frustrações nas pessoas. A culpa só pode ser do pai, o caro senhor inventor do guarda-chuva cujo nome eu não sei, que criou uma aberração com o intuito de sacanear a humanidade. Para facilitar, vamos chamá-lo de Jacinto.

“É engraçado – ou talvez seja triste – como o guarda-chuva é filho da puta com a gente. Ele é aquele cara que finge que nos ama e só quer ajudar, mas no fundo sente prazer com o nosso sofrimento.”

Jacinto colocou no mundo uma invenção que prometia salvar os cabelos arrumados e as roupas passadas, mas que não cumpre nada disso. Não venha falar que com você é diferente, porque eu sei: quando chove de verdade, pra valer mesmo, a única coisa que fica protegida pelo guarda-chuva é o miolinho do topo da sua cabeça. E olha lá.

Quando bate um vento forte, o guarda-chuva vira ao contrário. Quando a água é intensa, o guarda-chuva fura. Quando duas pessoas se cruzam na mesma calçada, o guarda-chuva enrosca no outro e uma das pontas do tecido se solta da varetinha, que vira uma arma furadora de olhos – tornando você um criminoso.

Mas a pior parte, a mais cruel, a mais revoltante, é que nós não vivemos sem o guarda-chuva. Se ele quebra ou é esquecido em qualquer lugar, a gente compra outro, mesmo sabendo que uma hora vai dar merda de novo. Mesmo se estiver caro. Mesmo que seja para deixá-lo encostado atrás da porta. Mesmo sabendo que vamos apenas criar a ilusão de que a chapinha não vai sair.

A realidade é que nós, todos nós, somos viciados em guardas-chuva. E que meia hora no ponto de ônibus, sem um celular, pode gerar pensamentos profundos sobre objetos que não pararíamos para analisar em nenhuma outra situação.

Tags: chuvaCrônicaguarda-chuvaSão Pedrosol

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