Na sala de parto, Anderson andava de um lado para o outro.
– Alguém tira meu marido daqui!
– Jackeline, eu não vou sair.
– Anderson, eu tô tentando me concentrar pra tirar uma pessoa de dentro de mim.
– Exatamente! Uma pessoa. Você tá entendendo a gravidade disso?
– Para de andar! Você tá me irritando.
– Jackeline, a partir de hoje a gente vai ser responsável por uma pessoa. Se acontecer qualquer coisa com essa pessoa, a culpa vai ser nossa.
Foi para o outro lado da sala e encostou a cabeça na parede.
– Anderson do céu, você tá chorando?
– Me deixa.
– Eu vou deixar mesmo se você não parar de graça, crio a Bia sozinha.
– Bia…
– Sim, a Bia.
– A gente vai chamar a Beatriz de Bia. É tão lindo!
– Alguém pode tirar meu marido dessa sala antes que eu tenha um ataque?
– Não! Não vou sair. Não vou.
– Então para quieto!
– Eu vou ficar quieto, eu vou, eu só preciso… Eu vou ficar quieto.
Foi para o lado da maca e começou a bater o pé em movimentos repetitivos. A médica riu.
– Jackeline, eu não vou sair.
– Anderson, eu tô tentando me concentrar pra tirar uma pessoa de dentro de mim.
– Não aguento mais fazer força!
– Meu Deus, tá saindo! É uma cabeça. Uma cabeça humana!
– Eu quero bater em você.
– É uma cabeça humana saindo de dentro de você, Jack. É inacreditável!
– É.
– Faz mais força, tá quase!
– Eu tô fazendo!
– Mas tem que fazer mais!
– Eu quero acabar com você na porrada!
– Saiu! Inteira. É um bebê inteiro!
A criança começou a chorar. Jackeline encostou a cabeça na maca, cansada.
– O parto dos sonhos…
– Não foi? Foi tão bonito.
– Eu estava sendo irônica. Você conseguiu estragar o momento.
– Ah, os hormônios! Sempre um problema.
– Para de falar um pouco, eu tô tentando não sentir raiva.
– Raiva do quê? Alguma enfermeira fez alguma coisa? Me aponta qual.
A médica trouxe Beatriz e a colocou nos braços da mãe.
– É a coisa pequena mais linda que eu já vi.
– Mesmo cheia de sangue.
– Mesmo assim.
– E com essa gosma que eu não sei o que é.
– Até com a gosma.
– Jackeline, você tá chorando?
– Me deixa.