Chegou em casa alguns minutos mais cedo – parecia que já estava sentindo a traição no caminho. Abriu a porta e se deparou com os dois no sofá.
– Eu não tô acreditando.
– Calma, amor, calma.
– Falavam que você ia me trair, eu respondia “o Valdemar nunca faria isso”. Todo mundo tentou me alertar sobre você, “o Val é assim”, mas eu sou um homem de bom coração e achei que comigo não ia acontecer. Não comigo.
– Vicente, me deixa explicar.
Sentou numa cadeira.
– Explique-se. Mas quero o Fernando calado, só você vai falar. Já não basta estar dentro da minha casa, me fazendo passar por essa humilhação. Você é nosso padrinho de casamento, Fernando!
Fernando abaixou a cabeça.
– Vai, Valdemar, desembucha.
– O Fernando veio aqui pra devolver a pipoqueira que a gente emprestou.
– Antes tarde do que nunca, né? Um mês com a nossa pipoqueira. Já devia estar fazendo pipoca pra fora.
– E aí a gente pensou: por que não fazer pipoca e abrir um guaraná?
Vicente colocou as mãos sobre os olhos e começou a chorar.
– Guaraná? Você sabia, Val! Você sabia que não ia ficar só nisso.
– Não, eu juro por tudo o que é mais sagrado que não! A gente não tinha intenção nenhuma. Fizemos a pipoca e ficamos conversando, mas uma coisa levou a outra.
Levantou e colocou as mãos na cintura.
– Quantas?
– O quê?
– Quantas vezes eu fui traído?
– Amor, você não precisa saber detalhes, vai ser pior pra você.
– Quantas vezes, Valdemar? Me fala agora!
– Eu não vou falar, não quero você magoado.
– Ah, que bom! Porque eu tô bem NÃO MAGOADO agora. Essas lágrimas são de felicidade.
– Vi, me perdoa, por favor. Eu achei que você não ia descobrir.
– O Fernando veio aqui pra devolver a pipoqueira que a gente emprestou.
– Antes tarde do que nunca, né? Um mês com a nossa pipoqueira. Já devia estar fazendo pipoca pra fora.
Esticou a mão.
– Me dá o controle.
– Não vou dar, Vi, só depois que você se acalmar.
– Me dá o controle, Valdemar!
– Não, se acalma primeiro.
– Se você não me der o controle agora, eu vou jogar essa TV na cabeça dos dois.
– Calma.
Pegou o controle.
– Se vocês tiverem acabado, eu juro que eu…
– Não acabamos.
Conforme olhava o menu, o choro ia ficando mais intenso.
– Penúltimo! Vocês chegaram no penúltimo!
– Mas eu ia ver de novo com você, Vi.
– Você ia me fazer viver uma mentira! Ia fingir que cada episódio era novidade pra você.
– Mas eu achei que não fosse nada demais.
– A gente combinou de ver junto!
– Eu sei, mas…
Vicente levantou a sacola que estava em sua mão.
– Sabe o que é isso, Val? Amendoim.
– Ai, Vi…
– Sim, comprei amendoim sem casca no caminho, pra gente comer enquanto assistia. Mas você preferiu assistir com outra pessoa.
– Poxa, Vicente, eu não sabia.
– O que você fez comigo, Valdemar, foi pior do que aquilo que o Jack fez com a Jeniffer. Vai ser difícil superar.
– O que o Jack fez com a Jeniffer?
– Na terceira temporada, você sabe muito bem.
– Terceira? A gente ainda nem acabou a segunda!
– Eu vou me deitar.
– Vicente! Você chegou na terceira sem mim?
– Não estou me sentindo bem, Valdemar, não quero ver você por algumas horas.
– Vicente, você tá na terceira temporada?
– Não quero mais falar.
Pegou o amendoim e foi para o quarto.