Eu estava frustrado, porque havia saído para ir ao mercado e esqueci o dinheiro em casa. Esse simples incidente, tão banal, foi capaz de me perturbar de tal maneira que, a partir dele, comecei a questionar toda a minha vida até então. E nesse estado lastimável eu voltava para casa, quando de repente recebo uma mensagem de celular. Esse hotel é longe de tudo. Estou com fome e a rua é escura é deserta. Era uma mensagem de quando você estava em Maceió, passando férias sozinha. E eu sabia que você não era de reclamar, especialmente quando não havia nada que eu, aqui de Brasília, pudesse fazer por você. Sem dúvida estava insuportavelmente sozinha. E eu me enchi de compaixão por você, e desejei dar um conselho muito acertado, alguma coisa que você, quando lesse, pensasse consigo mesma “como é que não pensei nisso antes?”, e então agradecesse e fosse comer. Mas eu não sou tão criativo e nem tenho tanta experiência de vida assim. E então apenas perguntei se não havia alguma coisa que pudesse conseguir no próprio hotel.
Nós já tivemos muitas brigas, e eu já exigi muita coisa de você, mas hoje somos capazes de mandar mensagens um ao outro quando não há ninguém mais a quem mandar.
Você disse que havia uma placa dizendo que não, não havia. Mas viu gente comendo lá embaixo, e cogitou ir até lá para ver. Eu incentivei a sua descida, feliz por ter surgido uma possibilidade de resolver o problema. E acrescentei alguma piada, apenas para que você não ficasse triste. E você provavelmente desceu até lá, mas eu não soube se conseguiu encontrar comida ou não. Você deve ter achado que já estava abusando da minha paciência, e então alegou que também já estava com sono, e a gente se despediu.
Talvez eu pudesse me gabar de ter, aqui de Brasília, contribuído para que você tomasse uma decisão em Maceió. Mas não penso em nada disso. Estou comovido com o seu problema e – confesso – um pouco contente por tê-lo confiado a mim. Nós já tivemos muitas brigas, e eu já exigi muita coisa de você, mas hoje somos capazes de mandar mensagens um ao outro quando não há ninguém mais a quem mandar.
Ah, é melhor eu parar de escrever. Sinto que daqui a pouco direi que te amo.