O que será que passou pela cabeça do Henrique no momento em que decidiu fazer um lanche em plena praça de alimentação de um shopping center? Porque ele não é de comer porcaria não. Pelo contrário, ele é daquelas pessoas que só come uma coisa depois de ter estudado minuciosamente a tabela nutricional, certificando-se de que não sejam exageradas as quantidades de açúcar, gordura e sódio. Se os números forem altos, ele recusa, por mais saborosa que seja a comida. Ora, mas todo mundo sabe que o objetivo de uma praça de alimentação é justamente extrapolar todos os níveis aceitáveis e recomendados pela Organização Mundial da Saúde. E, no entanto, ali está o Henrique, disposto a fazer uma refeição em plena praça de alimentação de um shopping center.
Mas não se pense que ele chutou o balde, que agora vai comer tudo o que tiver vontade, sem se preocupar com os efeitos em seu organismo. Ele ainda deseja comer com saúde, mesmo em shopping center, e por isso anda para lá e para cá, tentando descobrir qual comida causaria menos estragos dentro de si. Depois de rodar muito tempo, conclui que devia ser um calzone com massa integral. Mas antes de entrar na fila para pedir um desses, ele vai até o balcão para se certificar de que já há calzones desse tipo prontos, porque ele não está nem um pouco a fim de esperar até que resolvam fazer um. Descobre que já há dois calzones de massa integral prontinhos para ser comidos, um deles chamado “vegetariano” e o outro de palmito. Ele não é vegetariano, mas também não gosta de palmito, e por isso decide: vai o vegetariano mesmo.
Há dois calzones de massa integral prontinhos para ser comidos, um deles chamado ‘vegetariano’ e o outro de palmito. Ele não é vegetariano, mas também não gosta de palmito.
Entra na fila para fazer o pedido, de vez em quando lançando um olhar de preocupação ao balcão de calzones, temendo que alguém à sua frente possa escolher o vegetariano antes dele. Na sua cabeça, todas as pessoas de uma praça de alimentação são capazes de pedir um calzone vegetariano. Pois bem. Chega a vez dele, o calzone ainda está lá, e ele faz o seu pedido. Só não contava com a resposta da atendente: “Não tem”. Mas como não tem, diz ele, se acabou de ver ali no balcão, inclusive com um papelzinho bem na frente do calzone escrito “vegetariano”? Foram lá ver, tinha mesmo o papelzinho na frente, mas isso foi erro de alguém, aquele calzone na verdade é de brócolis. Vegetariano não tem, de massa integral só tem esses dois mesmo, o de palmito e o de brócolis.
Ele hesita um pouco. Pombas, brócolis não é exatamente a coisa mais gostosa de se comer, e também não é o tipo de coisa que se imagina que alguém vá comer em plena praça de alimentação de um shopping center, mas, vá lá, ele realmente não gosta de palmito. Consciente de que faz um pedido inusitado, ele abaixa a voz e diz: “Está bem. Então me vê esse de brócolis”. A atendente, mostrando grande insensibilidade, berra para a mulher que serve os calzones: “UM DE BRÓCOLIS!”. Agora a fila toda olha espantada para o sujeito que, podendo comer um monte de porcaria, decide ir ao shopping center para comer um calzone de brócolis. Ele suporta estoicamente os olhares alheios, pega o seu calzone e se afasta rapidamente dali. Procura um lugar bem afastado para se sentar e então dá a primeira mordida. Era de palmito.