Outro dia, em sala de aula, me vi diante da necessidade de explicar aos alunos o significado de uma palavra essencial para quem deseja trabalhar com comunicação: alteridade. Recorri à etimologia do substantivo, e expliquei que o radical “alter”, em latim, significa “outro”. Portanto, esse conceito, essencial aos estudos da Antropologia, da Psicologia, entre tantos campos do conhecimento, está relacionado à capacidade de enxergar o mundo não apenas a partir da perspectiva única, e muito limitadora, do eu: somos, também, quem nos cerca, por mais que isso nos desagrade, ou nos desestabilize de alguma forma. Essa instabilidade pode significar algo importante a ser confrontado.
Percebo, em meu dia a dia, que há uma tendência crescente a tentar reduzir, quando não eliminar, tudo e todos que possam gerar qualquer forma de enfrentamento, desconforto, ou questionamento do que acreditamos ser, e dos valores que defendemos, sejam eles quais forem. Vejo muitos tentando levar a cabo verdadeiras estratégias para desviar da necessidade de colocar o pé para fora da zona conforto e tentar enxergar a vida de uma perspectiva diversa.
Essas pessoas vivem numa ditadura do eu inventada, um paraíso (ou seria inferno?) artificial, que parece revelar uma incapacidade de ser plenamente, o que envolve a busca por outras subjetividades.
Percebo, em meu dia a dia, que há uma tendência crescente a tentar reduzir, quando não eliminar, tudo e todos que possam gerar qualquer forma de enfrentamento, desconforto, ou questionamento do que acreditamos ser, e dos valores que defendemos, sejam eles quais forem.
Estar de verdade no mundo, pelo menos para mim, passa, necessariamente, por estender a mão, mesmo a quem nos desagrada, porque esse ato pode nos resgatar da vala comum da mesquinhez, da cegueira ideológica e, por fim, do preconceito, que é uma arma afiada, letal. As certezas cegam, e podem matar.
O exercício da alteridade passa por também estender o olhar, colocar-se no lugar do outro, discordar, e buscar o confronto de ideias, o diálogo, ainda que isso seja uma experiência abrasiva, desagradável. Anular o outro, mesmo que seja apenas dentro de nós mesmos, é um ato de covardia, tanto por negar voz a quem nos desagrada, mas, principalmente, por se fundamentar numa recusa quase infantil do que nos contraria – por mais que desejemos anulá-los com todas as forças, sem esses outros nosso mundo não seria completo.
Em tempo: Orlando é aqui.