Quem já não ouviu em algum momento que plantar uma árvore, ao lado de escrever um livro e ter um filho, seriam experiências fundamentais à condição humana. Prefiro interpretar esse dito popular, cuja origem desconheço, como uma grande metáfora em forma de aconselhamento sobre a importância de criar, de abrir caminho à vida, em seus mais diversos significados e possibilidades.
Colocar um filho no mundo deve ser uma escolha consciente, responsável, porque não se trata apenas de satisfazer um desejo de continuidade genética, ou de vivenciar o tal amor incondicional, do qual não duvido, mas não considero necessariamente compulsório. Nem todos estão preparados, ou mesmo desejam ser pais. E não há nada de errado na escolha por não procriar.
Crianças precisam de amor e cuidado. Trazê-las ao mundo, e ajuda-las a compreendê-lo e respeitá-lo, não é tarefa simples, pelo contrário. Talvez seja uma das missões e experiências mais árduas e sublimes, portanto não pode ser considerada essencial para quem quer que seja.
Prefiro interpretar esse dito popular, cuja origem desconheço, como uma grande metáfora em forma de aconselhamento sobre a importância de criar, de abrir caminho à vida, em seus mais diversos significados e possibilidades.
Por usar a palavra escrita como meio de expressão desde muito cedo, parir um livro me parece desafio mais possível. Mas tenho certeza de que essa recomendação pode ser substituída por outro tipo de processo de gestação artística. Compor, desenhar, pintar, esculpir, realizar filmes. Enfim, dar vazão ao espírito criador tem algo de divino. É mais ou menos como deixar uma impressão digital, uma marca de nossa passagem por esta dimensão. Há várias formas, assim, de “se escrever um livro”.
Semana passada, ajudei a plantar uma jabuticabeira em plena cidade. À beira do asfalto, em meio a prédios e à margem de um caminho pelo qual passam muitas pessoas todos os dias, a pé, de bicicleta.
Ao escavar a terra, e prepará-la para receber aquela planta ainda pueril, menina e cheia de potencialidades, querendo florir e frutificar, senti algo profundo, carregado de simbologia: comunhão com o planeta, dos pássaros que por ali voam e fazem ninhos, aos que estão a caminho de algum lugar ou a perder-se, sem rumo ou destino. Percebi que havia ajudado a fazer algo de certa forma fundamental, como escrever um livro ou ter um filho. Toquei a felicidade com os dedos.