Você já se surpreendeu dizendo algo inesperado? Por vezes, um pensamento vem à tona de supetão (adoro esta palavra!), sem aviso prévio. Quase sempre é uma resposta a uma provocação. Daí, quando você se dá conta, já era. A ideia, visceral em sua origem, ganhou o mundo, como uma onda que se ergue no mar e não tem como ser contida.
Semana passada passei por uma dessas. Disse, em alto e bom som, num microfone, durante uma mesa-redonda sobre o ensino de cinema nas universidades, que, a esta altura da vida, já não me dou mais ao luxo de ser pessimista. Prefiro olhar para a luz a chafurdar na escuridão.
Verdade é que, diante do atual quadro em que estamos vivendo, eu, em princípio, teria todos os motivos do mundo para não ser otimista, e apostar no caos, investir na amargura, que muitas vezes enxergo como uma espécie de manto de comodismo e proteção. Mas, meu, não há nada mais demodé do que, em 2019, posar de niilista e enfiar a cabeça no balde do “nada vale a pena”, do “tudo está um lixo”! Ter postura crítica não deveria ser envenenar-se com a própria desesperança, mas compreender suas razões, saber de onde vem, para traçar um plano B, e cavar um túnel em direção contrária. Sobreviver a ela.
Mas, meu, não há nada mais demodé do que, em 2019, posar de niilista e enfiar a cabeça no balde do “nada vale a pena”, do “tudo está um lixo”! Ter postura crítica não deveria ser envenenar-se com a própria desesperança, mas compreender suas razões, saber de onde vem, para traçar um plano B, e cavar um túnel em direção contrária. Sobreviver a ela.
Tá, pode até ser verdade que estamos ferrados, e eu esteja aqui pagando de ingênuo, de Poliana. Não está mesmo fácil para ninguém, porém ficar olhando fixamente para o copo meio cheio, e se desdobrar em reflexões sobre o vazio, como se esse vácuo nos definisse, me parece, hoje, uma atitude confortável, acomodada. Porque, sim, seis pessoas dispostas a assistir a um filme, para depois discuti-lo, porque de fato querem estar ali, é um acontecimento que não deveria ser desprezado. Melhor seriam 60, ou 600. Mas se seis é o que temos para hoje, por que desprezá-los em um momento em que a cultura anda tão desacreditada?
Assim como desisti do pessimismo, também ando me afastando da ideia de que tudo precisa causar estrondo para ser digno de nota, ter um significado. Os pequenos movimentos, quando são de verdade, orgânicos, podem conter mais potência do que se imagina. Por isso, é importante resistir. Para reagir.